Sustentabilidade do dia a dia e a COP 30
* Ecio Rodrigues
Pode ser que todos os 196 países associados à Organização das
Nações Unidas cheguem, durante a COP30 que acontecerá em Belém, capital do
Pará, em novembro próximo, a um consenso, sobretudo que agrade aos
ambientalistas, quanto aos princípios e critérios de sustentabilidade que devem
ser adotados no planeta, mas é muito difícil.
Embora seja uma discussão com duração sem precedentes na história
do movimento ambientalista internacional o conceito de sustentabilidade, em
especial em relação às demandas do dia a dia da humanidade, ainda enfrenta bem
mais divergências que convergências.
Dentre as divergências o uso de terras já desmatadas em uma região
com a extensão territorial da Amazônia, pode ser considerado o de maior impacto
para a ecologia, economia e para a geração de emprego e renda.
Muitos, com toda razão, defendem o aproveitamento produtivo das
terras antes ocupadas por florestas por meio do cultivo de espécies agrícolas
permanentes ou que exijam replantio a cada 10 anos, como o café e algumas
frutíferas.
Esquecem, entretanto, que antes havia uma floresta ocupando aquele
solo e que o desmatamento representou um prejuízo ambiental e financeiro
impossível de ser reparado com a introdução de qualquer outra atividade
produtiva.
Outro fator importante é que ao advogar pela recuperação da terra
desmatada, inclusive por meio do retorno ao cultivo de capim para criação
extensiva de gado, garantem que o uso da terra desmatada evitará novos
desmatamentos.
Um raciocínio questionável e derrubado por uma robusta estatística
que comprova que a terra, degrada ou não pelo uso intensivo, costuma ser
abandonada por razões variadas, como a inadimplência do produtor para o farto crédito
rural ofertado todos os anos.
Aumentar a produtividade de área desmatada jamais evitará novos desmatamentos
e, no fim da linha, aumentará o lucro de uma atividade de baixa produtividade que
depende do desmatamento para ganho de escala.
Uma contradição terrível e repetida às tantas para consubstanciar
um rol enorme de políticas públicas destinadas a consolidar uma hegemônica
atividade produtiva que ocupa mais de 90% da terra desmatada em locais como o
Acre, por exemplo.
Contradição terrível uma vez que a negação da pecuária extensiva e
o reconhecimento de sua completa inadequação ao bioma florestal da Amazônia
representam uma das mais importantes convergências para o conceito de
sustentabilidade da Amazônia.
Poucos e quase sempre impregnados por forte contaminação
ideológica são capazes de defender a pecuária extensiva na condição de
atividade rural capaz de fornecer sustentabilidade, ecológica e econômica, ao
desenvolvimento da Amazônia.
Restaria uma pergunta bem inconveniente.
Se há convergência sobre o efeito nefasto da criação de boi na
sustentabilidade da Amazônia como explicar os mais de 90% do Pronaf, todos os
anos investidos na pecuária extensiva?
O momento será oportuno e a COP30 poderá levar essa maior
convergência para promover a redução do crédito rural estatal destinado ao gado
na Amazônia.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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