Quantos SOS BR 364 o Acre ainda vai repetir?

 * Ecio Rodrigues

Parece aquela novela da pior qualidade, mas a cada dois anos depois da pavimentação reinaugurada começa a ladainha pela falta de manutenção da rodovia BR 364, no trecho ligando a capital do Acre até Cruzeiro do Sul.

Ninguém, e em nenhum momento, se preocupa em discutir a capacidade do governo federal, por meio de seu órgão especializado o DNIT, em conseguir dispor de dinheiro (agora orçado em 1 bilhão de reais) e de condições operacionais para conservar a rodovia.

Sendo que nunca conservou!

Há razoáveis e robustas estatísticas demonstrando que esse caminho não tem qualquer chance de sucesso. O fracasso é evidente e foi repetido às tantas, com maior estardalhaço e menor interstício desde o final do século passado.

Políticos, fora do Poder Executivo, acusam os gestores da vez de duas repetidas atitudes.

A primeira remete ao tradicional abandono do poder central em Brasília para com o Acre, algo que ocupa o imaginário da população, como se o povo brasileiro tivesse alguma obrigação formalizada em manter a rodovia no Acre.

Já a segunda atitude, bem mais fácil de explicar ao povo, defende que novos governos, caso vençam a próxima eleição, vão conseguir conservar a BR364 coisa que o governo do momento não consegue devido a corrupção e por aí vai.

Entretanto, todos os governos tentaram e não conseguiram manter a rodovia pavimentada ou com boas condições de tráfego por mais de três anos, todos sem exceção.

Os que se autodenominam de esquerda ou de direita, sem que se saiba exatamente o que isso signifique, tentaram em várias ocasiões e deixaram de lado a empreitada por ser considerada inalcançável.

Nunca é demais lembrar que na virada do século, de 1999 para 2000, após o único período na história recente do Acre em que o governo estadual assumiu as rédeas e asfaltou como nunca antes, a Funtac foi acionada para avaliar a qualidade da festejada pavimentação.

Com apoio de especialistas renomados, oriundos da Universidade de São Paulo e da Unesp, os maiores e melhores celeiros da engenharia civil do país, uma comissão de avaliação chegou à seguinte brilhante conclusão.

A pavimentação foi realizada segundo o manual da respeitada engenharia civil nacional e empregou o que tinha de melhor em termos de tecnologia, em que pese o elevado custo benefício da obra.

Com valores que à época chegavam a dois milhão e meio de reais por quilômetro, os especialistas paulistas questionavam o contrassenso em investir tamanha fortuna, para manter os quase 650 quilômetros de um trecho que produzia muito pouco, ou quase nada.

Explicando melhor, o retorno econômico para os acreanos e para os brasileiros seria bem inferior ao investimento demandado, sendo que no país existem rodovias transportando uma produção considerável também exigindo investimento público elevado.

Mas o defensor do povo sempre repete a mesma ladainha, se não há carga a ser transportada para justificar um investimento desse montante há pessoas que não podem ficar isoladas.

Em uma resposta simples, os especialistas afirmavam que para tirar pessoas do isolamento não precisamos de uma rodovia nas dimensões da BR 364 e pavimentada aos custos exorbitantes necessários ao transporte de cargas.

Nos últimos trinta dias os rondonienses também travam um debate bem mais instigante sobre a BR 364.

Acontece que o governo federal, que pensa não ser liberal, acabou de privatizar o trecho que transporta um dos maiores volumes de carga do agronegócio no país, entre Porto Velho e Vilhena.

Não existe plano B, no Acre também há somente uma saída, que paguem pela manutenção da rodovia quem transporta alguma carga ou só passeia por ela.

 

*Engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).

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