Escola de Samba carioca esquece crise climática em 2025
* Ecio Rodrigues
Depois de a Escola de Samba Portela vencer o carnaval de 2017
cantando a importância da mata ciliar dos rios, enredos sobre a atual crise
ecológica, que eleva a temperatura do planeta, parecem ter perdido tração.
Para quem não se lembra, no Carnaval de 2017 do Rio de Janeiro, a
Portela sagrou-se campeã do carnaval carioca decantando a mata ciliar.
Entoando o lindo verso “Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver
esse rio passar”, os portelenses se propuseram a discutir a importância dos
rios e a necessidade de preservar o tipo especial de floresta representado pela
mata ciliar (veja mais aqui:www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3649).
Por duas fortes razões o esquecimento do tema do aquecimento do
planeta e das visíveis e comprovadas alterações no clima, não deixam de
significar certo distanciamento dos sambistas em relação à realidade cotidiana.
Preferindo alguns temas com raiz africana, com seus orixás e
outros símbolos que, também com muita razão, atraem a imaginação popular, mais
de 80% das escolas se dedicaram em esmiuçar lendas e sua assimilação pelos
brasileiros.
Voltando as duas razões que deveriam colocar em evidencia o Acordo
de Paris, assinado em 2015, e a urgência em frear o uso de petróleo, a primeira
delas é que a humanidade corre, de fato, risco.
Tragédias como tsunami, seca e alagação se repetem em meio a um
calor intenso por aqui e na Europa, causando prejuízos econômicos exorbitantes
que chama atenção, inclusive, de quem se preocupa somente com a economia.
Já a segunda razão é ainda mais evidente.
Nós brasileiros vamos sediar a conferencia das partes sobre
mudança climática, ou simplesmente COP30 na sigla em inglês, que acontecerá
novembro próximo em Belém, capital do Para.
Será um momento único e oportuno para chamar, mais uma vez diga-se,
a atenção do mundo para o desmatamento da Amazônia e os avanços das políticas
públicas que cobram muito esforço da sociedade para conservar a maior floresta
tropical do planeta.
A escolha de uma cidade amazônica como sede se justificou diante
da importância daquele maciço florestal para o planeta e para motivar os países
a disponibilizarem dinheiro para financiar projetos de bioeconomia e exploração
sustentável da floresta, que permita superar o nefasto e persistente ciclo
econômico da pecuária extensiva iniciado nos idos de 1970.
Somente duas escolas trouxeram pequenas exceções que merecem
destaque.
A Escola Acadêmicos do Grande Rio, com um samba excelente e o
enredo “Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos
curimbós” vai contar a história do carimbo, dança típica dos paraenses.
E a brilhante Mocidade Independente de Padre Miguel, com o enredo “Voltando
para o futuro, não há limites para sonhar” mostrará para onde caminha a
humanidade se e quando conseguir superar a atual e emergente crise ecológica.
Toda torcida para a Mocidade mostrar que o futuro do planeta ainda
merece destaque. Com muito calor, claro!
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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