Desmatamento na Amazônia cai e se aproxima do recorde de 2012

* Ecio Rodrigues

Nem mesmo os mais otimistas poderiam esperar uma taxa de desmatamento na Amazônia, para o período entre julho de 2023 e agosto de 2024, 30,63% menor em relação aos doze meses anteriores.

Com disciplina e precisão incontestável o reconhecido Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, divulgou no início de novembro que a Amazônia perdeu, em 2024, o equivalente a 6.288 km² de área de floresta nativa.

Parece inacreditável que um número tão elevado seja muito de comemoração, mas é!

Por várias razões, mas duas delas merecem destaque.

A primeira ao indicar que esta superado o nefasto período dos quatro anos do governo federal anterior, aquele que detestava lidar com o tema do desmatamento chegando ao ponto de achar que o prestigiado Inpe agradaria alguma organização não governamental com a divulgação das taxas elevadas.

Na verdade, as taxas, altas e baixas, são de responsabilidade do governo federal e o Inpe faz as medições, desde 1988, com rigor analítico incomparável e respeitado mundo afora.

Por óbvio, o Inpe não precisaria agradar ONG, nem governos.

A segunda razão é que a taxa de 2024 é a primeira exclusivamente sob o gerenciamento do atual governo federal, que faz questão de recuperar a reputação brasileira de preocupação com a destruição da Amazônia.

Difícil mensurar o peso da fiscalização ou de atividades produtivas sustentáveis na importante redução da taxa de 2024.

Com expressiva melhora a fiscalização focada nos municípios que mais desmatam parece ter trazido respostas bem melhores e efetivas que os caminhões do exército circulando por ramais.

Por outro lado, a queda expressiva em regiões consideradas líder no desmatamento, em que o agronegócio é pujante, tecnificado, moderno e representa, quando pouco, metade da riqueza gerada, como no Mato Grosso e Rondônia por exemplo, a queda inusitada pode significar alguma mudança de atitude na economia.

Seria mais que gratificante se a economia de baixo de carbono, com indicadores expressivos de sustentabilidade ambiental, tivesse proporcionado maior impacto na redução da taxa que a fiscalização.

Afinal, está na alteração da visão sobre a economia da Amazônia, em especial aquela adotada pelos investimentos produtivos, que levará a região a superar o famigerado ciclo destruidor de florestas representado pela hegemônica pecuária extensiva.

Enquanto continuarmos tolerantes em relação a total ausência de sentido econômico quando um boi pasta em dois hectares de pasto onde antes havia uma floresta com a maior biodiversidade do planeta, não lograremos chegar e manter as taxas de redução recorde com aquela observada em 2012.

A meta é a taxa de 2012, pois foi o único ano em que se desmatou área menor a 5.000km2 de florestas na Amazônia.

A drástica redução de 2024 mostrou que isso é plenamente possível, mas somente conseguiremos estabilizar a redução por meio de um novo imperativo econômico que altere a origem da riqueza gerada na região.

Não é impossível e poderemos chegar na COP30 de Belém, no final de 2025, com a reputação de líder da política mundial sobre mudanças do clima!

 

*Engenheiro Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).

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