COP30 e o Cluster Florestal da Amazônia
* Ecio Rodrigues
Para os menos familiarizados sobre a importância da convenção da
Organização das Nações Unidas, ONU, sobre mudança climática a trigésima
conferencia de negociação dos países, ou COP30, acontecerá em Belém, capital do
Pará em novembro próximo.
Será o momento adequado para discussão de políticas de
desenvolvimento para a Amazônia e a avaliação do modelo adotado pelo Brasil,
que desde a década de 1970 do século passado prioriza o financiamento estatal
da pecuária extensiva.
Resumindo, o tema do desenvolvimento regional, que tem em Celso
Furtado seu maior expoente nacional (principalmente no que se refere aos estudos
sobre desigualdades regionais e desenvolvimento x subdesenvolvimento), a identificação
da vocação produtiva da Amazônia precisa ir além do que preconiza a consolidada
teoria das vantagens comparativas.
Por seu turno, a bibliografia especializada na teoria da vantagem
competitiva (cuja obra de Michael E. Porter “A Vantagem Competitiva das Nações”
é referência incontornável) coloca a formação de cluster, entendido como aglomerado
econômico de indústrias afins em uma determinada localidade, como referencia
para ampliar a competitividade de uma região ou país.
Em uma rápida síntese, a ideia força pode ser descrita mais ou
menos assim: se todas as propriedades rurais desse gigante país criam gado
solto no pasto, no sistema conhecido por pecuária extensiva, não será ofertando
o mesmo gado que a Amazônia atrairá investimento privado.
Por outro lado, uma vez que os produtos florestais são monopólio
regional, como bem comprova os ciclos econômicos de maior riqueza na história
da Amazônia, a biodiversidade florestal se mostra imprescindível para conquista
de vantagem competitiva frente a outras regiões.
Na verdade, foi o estudo dos ciclos econômicos baseados em
produtos florestais que possibilitou, aos pesquisadores, sistematizar a
composição de aglomerados econômicos compatíveis com as peculiaridades ou
identidade produtiva de cada um dos nove estados amazônicos.
Sendo assim, o debate a ser realizado na COP30, deveria ser
direcionado ao conjunto de projetos produtivos capazes de superar o desafio de
trazer os pressupostos da teoria das vantagens competitivas para a realidade atual
da Amazônia.
Como? Mediante a esquematização dum cluster, ou seja, a reunião de
diversos setores industriais que tenham em comum a origem de sua matéria-prima,
o primeiro elo da cadeia produtiva no interior do ecossistema florestal.
Entretanto, o desafio da COP30 para compor uma agenda de política
pública voltada à identidade produtiva regional, a despeito dos avanços
realizados pela Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia há mais de
trinta anos, será enorme por várias razões, duas delas merecem destaque.
Primeiro que não existe, na Amazônia, nenhum cluster do
ecossistema florestal estabelecido para servir de diagnosticado e permitir
propor projetos produtivos para sua ampliação ou estruturação, o que seria o
ideal.
Talvez o empreendimento regional que mais se aproxime da ideia de
cluster seja a Zona Franca de Manaus, que, entretanto, não guarda nenhuma
relação com o cluster do ecossistema e nisso reside a segunda razão do desafio
para COP30.
Ou seja, a transferência de formulações elaboradas “sob medida”
para fábricas ou usinas consolidadas, em operação no segmento industrial elétrico
eletrônico, ou têxtil, ou ainda de química fina, e até de informática.
Logo depois adequar a fórmula para um setor econômico, que por
sinal não existe, quer seja em termos de atratividade para investimento pelo mercado
e, talvez o ainda mais grave, sequer foi estudado no seu conjunto sob a ótica da
importância econômica para a região, o ecossistema florestal da Amazônia.
Superar as análises localizadas sobre o exuberante ciclo econômico
das drogas do sertão, da borracha, da castanha-da-Amazônia e da madeira, até
chegar a uma necessária avaliação sistemática do cluster do ecossistema
permitirá quantificar sua superioridade frente a hegemônica, estagnada e
predatória pecuária extensiva sempre refém do desmatamento.
Talvez assim, a COP30 poderá ser lembrada como um divisor na
história econômica do desenvolvimento e do desmatamento zero da Amazônia.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
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