Fundo Amazônia apoiará Sistema Agroflorestal para reflorestar terra degradada pela pecuária extensiva
* Ecio Rodrigues
Em uma
decisão inédita e mais que oportuna o BNDES, com os recursos do Fundo Amazônia,
vai doar dinheiro para projetos de implantação de Sistemas Agroflorestais, ou
simplesmente SAF, em áreas selecionadas de terras destruídas pela pecuária
extensiva.
Com robusto
orçamento de 100 milhões de reais, alguns municípios localizados no arco do
desmatamento foram selecionados para receber plantio de reflorestamento que
agrega valor econômico e conservacionista em uma mesma área.
No caso do
Acre, por exemplo, as cidades de Xapuri e Epitaciolândia, com foco na Reserva
Extrativista Chico Mendes, a instalação de SAF pode reverter a tendência de
destruição florestal em uma das unidades de conservação que mais recebe impacto
pela ampliação do desmatamento para criação extensiva de boi.
Por sinal,
a região do alto Rio Acre, indo do município de Capixaba até a fronteira em
Assis Brasil, possui conhecimento acumulado excepcional na definição de
consórcios de espécies florestais e agrícolas.
Foi ali,
com o propósito de reverter um processo perigoso de desmatamento para
disponibilizar solos para plantar capim e expandir a pecuária extensiva, que
ainda no final do século passado mais de 250 produtores receberam o Projeto SAF
& Açude.
Reconhecido
legado do CTA, uma das organizações não governamentais mais proeminentes da
Amazônia e que infelizmente foi extinta por volta de 2008, o SAF & Açude
foi pioneiro no desenho de um consórcio adequado à realidade social, florestal
e econômica da região.
Foi o único
projeto a comprovar a profunda sintonia entre o que prevê o SAF e a
piscicultura comercial em açudes, uma vez que o primeiro é pouco atrativo e o
segundo uma reivindicação do produtor devido ao período cada vez mais longo de
seca (saiba mais aqui: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=1663).
Não à toa
quando os técnicos do CTA chegavam às propriedades para executarem o projeto
SAF & AÇUDES, ainda em 1995, todos os produtores, sem exceção, ficavam
muito animados com a ideia do açude e decepcionados com a do SAF.
Na verdade,
o plantio das espécies consorciadas no SAF se transformou em condição para
receber o tão almejado açude. E mais, o açude, desta feita de um hectare de
lâmina de água, tinha que atender a demanda de cinco famílias. Todos aceitavam
essas condições com alegria, pois o açude compensava o sacrifício coletivo do
SAF.
A
piscicultura iniciava assim sua fase de consolidação no Acre associada à
instalação de SAF.
Segundo o
edital do BNDES, somente uma organização não governamental poderá apresentar
proposta de projeto de SAF para ser financiado a fundo perdido até 07 de
fevereiro de 2025.
Uma
iniciativa que coloca a economia de baixo carbono na Amazônia em um nível acima
da pecuária extensiva, esse é o caminho, com certeza!
*Engenheiro florestal
(UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
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