Para superar o limitado agronegócio da pecuária extensiva na Amazônia

* Ecio Rodrigues

O diagnóstico acerca dos efeitos nefastos para a economia da Amazônia devido a hegemonia da criação extensiva de gado na sua ocupação produtiva foi amplamente elaborado e repetido em diversas dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Bem mais raro, entretanto, é encontrar pesquisas que apontem soluções que permitam a superação desse nebuloso período de predomínio da pecuária extensiva, até a estagnação da economia em larga escala e por muito tempo, desde a década de 1970 do século passado, ou por mais de cinquenta anos.

Pode parecer absurdo contudo a insistência no erro econômico representado pelo agronegócio da pecuária extensiva possui razões históricas até certo ponto compreensíveis.

Afinal desmatar, plantar capim e colocar alguns animais são atividades que exigem poucas qualificações, pouco capital, poucos trabalhadores e, o item de maior fartura na região, muita terra barata.

Todavia, ainda há tempo e a discussão sobre a bioeconomia na Amazônia pode representar o esperado divisor de águas na história do seu desenvolvimento.

O primeiro passo será demonstrar, a partir de séries estatísticas robustas e disponíveis, a urgência por uma revisão do processo de ocupação social e econômico vivenciado na região, diante da realidade de uma economia que não gera riqueza devido as limitações impostas pelas características físicas, químicas e biológicas do ecossistema florestal.

Não há espaço político, nacional e internacional, para ampliar a área desmatada de modo a oferecer ao agronegócio da pecuária extensiva o ganho de escala que requer.

Empregando a teoria dos ciclos econômicos como fio condutor, é possível identificar momentos distintos da história econômica da Amazônia.

O ponto de partida foram os ciclos baseados na diversidade biológica, como o das drogas do sertão, dos pescados e tartaruga e, o mais importante, os dois ciclos da borracha. E, o ponto de chegada, as fases atuais da madeira, mineração, agricultura e pecuária.

As causas do surgimento, auge e declínio de cada ciclo facilitam a compreensão da realidade produtiva da região, o que sustenta a definição de investimentos em política pública com diferenciação entre os setores a serem estimulados e aqueles que dependem do desmatamento e que, portanto, devem ser inibidos.

Afinal, o recurso público e privado prioritário deverá dar ênfase em um cluster, ou aglomerado econômico, baseado no ecossistema florestal como elemento fundamental para ampliar a vantagem competitiva da Amazônia frente a outras regiões com visível vocação para o agronegócio da pecuária.

Após a superação, ainda no final do século passado, da produção de madeira realizada de maneira irregular e, em grande parte, no rastro do desmatamento praticado para a instalação da pecuária extensiva, a dinâmica do licenciamento ambiental do manejo florestal, exploração e beneficiamento de produtos de madeira precisam ser mais bem dimensionados.

Por sinal, assumindo que o produto madeira certificada não poderá ficar de fora da bioeconomia pensada para a Amazônia, foi de fundamental importância a inclusão na política pública da tecnologia de manejo florestal há muito tempo empregada na região.

Inclusive, as históricas experiências de manejo florestal comunitário de madeira e outros produtos florestais, algumas exemplarmente conduzidas no Acre, contribuíram sobremaneira para superar as incertezas quanto à viabilidade técnica do manejo florestal em pequenas propriedades e de maneira compatível com as características do ecossistema florestal da Amazônia.

Finalmente, o dinheiro da política pública que fez a pecuária extensiva ocupar toda região precisa ser repetido para a bioeconomia do cluster florestal na Amazônia.

 

*Engenheiro Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Política Nacional de Meio Ambiente, 40 anos depois

AMARELÃO – Aspidosperma vargasii A. DC., Aspidosperma parvifolium

MUIRACATIARA – Astronium lecointei Ducke.