Cluster Florestal em Mato Grosso do Sul inviabiliza eucalipto no Acre
* Ecio Rodrigues
Embora a Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre se
esforce em estudar a domesticação de eucalipto na bacia hidrográfica do rio
Acre, acreditando na viabilidade econômica de plantios em larga escala, a
realidade em Mato Grosso do Sul, MS, comprova o contrário.
Com um aglomerado econômico consolidado, que inclui o plantio de
eucalipto para produção de celulose, de madeira para o setor moveleiro e a geração
de energia elétrica por meio de biomassa de eucalipto, por isso a denominação
de Cluster Florestal, o MS exportará mais produtos de florestas que soja no
curto prazo.
Após conquistar o título de Capital Nacional da Celulose para o município
de Três Lagoas, oficializado pela aprovação da Lei 14.142, em 2021, o MS busca
o reconhecimento de Capital Nacional do Eucalipto para a cidade Ribas de Rio
Pardo.
Um total de cinco indústrias de grande porte estão instaladas no
Cluster Florestal com a presença de gigantes do setor como a Eldorado Brasil,
Suzano, Bracel e a multinacional chilena Arauco.
Todas as indústrias possuem áreas cultivadas com eucalipto que
somadas chegam a 1,7 milhões de hectares e devem alcançar no curto prazo,
segundo a Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de
Florestas Plantadas, Reflore-MS, a 2 milhões superando Minas Gerais.
Com logística favorecida para escoamento da produção pelo porto de
Santos, onde a Eldorado Brasil venceu recente leilão de terminal que terá capacidade
para embarcar até três milhões de toneladas de celulose por ano, o Cluster
Florestal do MS inclui, ainda segundo a Reflore-MS, cinco municípios em que a
oferta de emprego e renda passará por profundas melhorias.
Iniciado em Três Lagoas, cidade que nos últimos 20 anos passou por
um acelerado permanente crescimento econômico, onde estão sediadas as plantas
da Eldorado Brasil e Suzano, o Cluster Florestal se estende para Ribas do Rio
Pardo, Brasilândia, Água Clara e Inocência. Todos com melhorias sensíveis na
oferta de emprego e geração de riqueza.
Para uma ideia aproximada da importância do eucalipto para
economia estadual, o Cluster Florestal oferece atualmente, em todos os elos de
uma diversificada e sustentável cadeia produtiva, 90 mil empregos e exportou,
em 2022, mais de 4 milhões de toneladas de celulose o que equivale a 1,5 bilhão
de dólares de receita.
Fruto de um planejamento estatal de longo prazo bastante incomum
em políticas de desenvolvimento estaduais e que se mostrou impossível na
realidade política do Acre, o Cluster Florestal do MS caminha para se tornar
referência no mercado europeu.
Finalmente, vale acrescentar que o eixo logístico ligando o MS aos
portos no Chile, atravessando o Paraguai e Argentina, está previsto no PAC 2023
do governo federal e permitirá a saída de celulose para os mercados do oceano
pacífico.
Haja pensamento positivo para acreditar que Rondônia terá
condições de competir com o Cluster Florestal do MS e participar de forma ativa
no setor de celulose.
No caso do Acre, por óbvio, o eucalipto vai precisar de algo mais
que pensamento positivo, talvez alguns milagres para superar a criação extensiva
de boi. É só esperar!
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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