Tragédia gaúcha e o Acordo de Paris

* Ecio Rodrigues

A quantidade de chuvas concentradas no tempo e no espaço geográfico e a consequente elevação rápida da vazão na bacia dos rios que cortam a região metropolitana de Porto Alegre e arredores, embora difíceis de serem previstas com data e hora certa para acontecer possuem riscos passíveis de determinação.

Existem duas discussões que não ajudam no momento da tragédia e para a eficiente reparação dos danos causado paras as famílias e ao patrimônio público.

A primeira gritaria, quase sempre levada adiante por oportunistas e muito apressados, busca colocar a culpa nos políticos, no batido argumento de que determinado governador ou prefeito se saísse melhor no quesito de preparar a região para a mudança do clima que outro, algo que não existe.

Já o segundo debate, que pode ser considerado inclusive mais inútil do que culpar os políticos, remete a questões religiosas do tipo pecado e castigo, que coloca São Pedro como gestor da precipitação que pode decidir onde, quando e quanto chove.

Fenômenos climáticos, como El Niño, também entram para reforçar a sensação de que tragédias como alagações e secas não possuem causa nas ações da sociedade e, o mais grave, que devem ser aceitas como inevitáveis.

Enquanto isso, a importância da relevante primeira Conferência do Clima, conhecida por Rio 92, e todas as 25 Conferências das Partes posteriores, com destaque para a COP 21 que conseguiu com sucesso fazer com que 195 países assinassem o Acordo de Paris, costuma ser colocada em dúvida a todo momento.

Mais grave ainda, nós brasileiros, quer vivendo no Acre ou no Rio Grande do Sul, locais das tragédias decorrentes de alagações mais recentes, mostramos grande dificuldade para estabelecer uma relação de causa e efeito entre a realidade local e o aquecimento do planeta.

Se converte em verdadeiro abismo intelectual aos acreanos, por exemplo, relacionar o desmatamento para instalação de pecuária extensiva, uma atividade produtiva com sérias limitações para prover o bem-estar econômico que os acreanos necessitam, com as secas e alagações, que acontecem em cada vez menos prazos.

Quando os defensores do agronegócio se propõem a advogar pela defesa do desmatamento da floresta, mesmo diante de uma robusta produção científica contrária, quase todo formador de opinião em particular e a sociedade em geral, parece não acreditar que a alagação do Rio Acre está diretamente ligada ao desmatamento.

Concentrar esforços na mitigação dos danos, ou melhor, atuar na reparação das consequências é o que importa aos gaúchos nesse momento.

A boa notícia é que conseguimos, enquanto sociedade, conceber soluções e instituir sistemas de investimento do orçamento público que possibilitam, no curto prazo, executar os projetos que auxiliam a volta à normalidade em tempo exíguo.

Precisamos sim, após remediado o caos, entender que o Acordo de Paris deve ser discutido e compreendido pela população, pois as respostas estão todas ali.

 

*Engenheiro Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB). 

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