Amazonas sai na frente no mercado de carbono da Amazônia
* Ecio Rodrigues
Teve um momento na história econômica da Amazônia em que o Acre
despontava como criador de alternativa para uma ocupação produtiva que
permitisse superar o persistente ciclo econômico da pecuária extensiva, que é
sempre muito intensiva em desmatamento.
Do final da década de 1980 até o início do século atual, o legado
do Acre para a política e o desenvolvimento da Amazônia incluiu duas
importantes contribuições: a invenção das Reservas Extrativistas e a elaboração
da tecnologia de uso múltiplo da biodiversidade florestal por meio do manejo
comunitário.
Contudo, o fracasso do Projeto Florestania, que elevara o legado
deixado por algumas organizações da sociedade civil como o Centro dos
Trabalhadores da Amazônia ao nível de política pública de governo, trouxe o
retrocesso do agronegócio da criação do boi solto no pasto, repetindo intensiva
em desmatamento, à condição de única via para o desenvolvimento e progresso
estadual.
Mas nem tudo está perdido, com o apagar da história econômica no
Acre vem do Amazonas, que possui o território com maior área coberta por
floresta nativa de toda a Amazônia, a iniciativa mais ousada para consolidar o
mercado regional de carbono.
Melhor ainda, seguindo os passos trilhados antes no Acre o
Amazonas adota a garantia fundiária trazida pelas Unidades de Conservação,
nesse caso sendo a maioria inserida na categoria de Reserva de Desenvolvimento
Sustentável, para instalar projetos no modelo REDD+ jurisdicional.
Um conjunto de 42 Unidades de Conservação Estaduais pode ser
beneficiado, com a garantia do desmatamento zero e a melhoria da qualidade de
vida dos produtores residentes.
Vejam bem, são terras sob o domínio do próprio Estado do Amazonas
e não do governo federal, áreas em que a tecnologia do manejo florestal
comunitário e do uso múltiplo da biodiversidade florestal vão se consolidar
fazendo com que o desmatamento zero também permita gerar receita para as
comunidades.
Duas das unidades de conservação licitadas, a RDS do Juma e do Rio
Negro, vão se somar à produção ou estoque de carbono em quase 12 milhões de
hectares de terras estaduais com florestas que nunca, é nunca mesmo, serão
desmatadas para plantar capim.
Em recente edital de licitação cinco empresas (BrCarbon,
Carbonext, Ecosecurities, Future Carbon e Permian Serviços Ambientais) que
possuem experiência reconhecida, se credenciaram para manejar a produção ou
estoque de carbono em 21 unidades de conservação estaduais.
Contratos com duração de 30 anos permitirão que as empresas
contratadas elaborem os projetos, apresentem e negociem no proeminente mercado
de carbono ficando com 15% de toda receita obtida.
Conforme previsto em edital, os 85% restantes da receita
arrecadada com a venda dos créditos de carbono serão divididos, meio a meio,
entre a unidade de conservação que gerou o crédito e o Fundo Estadual de
Mudanças Climáticas para pagamento dos produtores que atuam no programa
Guardiões da Floresta para o desmatamento zero.
Finalmente, após mais de 40 anos de muita explicação, o mercado de
carbono para o desmatamento zero se tornará realidade no Amazonas.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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