Desmatamento não é problema para os nove governadores da Amazônia
* Ecio Rodrigues
Reunidos em Rio Branco no Acre em sua
27ª edição, de 2024, o Fórum de Governadores da Amazônia terminou dia 12 de
abril último, sem que em nenhum momento se pronunciasse ou escrevesse a palavra
“desmatamento”.
Não
é de hoje que os governadores e os prefeitos, eleitos e com mandato no Poder
Executivo dos nove estados amazônicos, se negam a reconhecer a destruição da
floresta como o principal, senão único, entrave real para a economia,
desenvolvimento e a efetiva ocupação produtiva da região.
Preferindo
expressões genéricas do tipo: conquista
do desenvolvimento sustentável, em
busca da sustentabilidade, ou as mais modernas enfrentamentos dos eventos climáticos extremos, os gestores
municipais e estaduais discursam e conseguem ludibriar jornalistas pouco
preparados evitando, assim, colocar o dedo na incurável ferida do desmatamento.
Em
um documento sofrível intitulado “Carta de Rio Branco” (que deve fazer o genial
Barão de Rio Branco se remover no túmulo), os governadores aprovaram oito
objetivos, ou ideias, ou diretrizes, ou seja lá o que for isso, que não
mencionam o desmatamento e que todo mundo sabe não possuir nenhum significado
no cotidiano de ninguém.
Na
realidade escamoteada pelo Fórum de Governadores, em todos os recantos da
Amazônia, sem exceção, áreas de florestas foram desmatadas em 2023, da mesma
maneira que em nenhuma cidade houve desmatamento zero, com destaque para os
destruidores campeões de sempre: Rondônia, Pará e Mato Grosso.
Entretanto,
dentre todos os locais em que se desmatou em 2023 sem a menor preocupação com o
futuro, talvez o caso mais emblemático seja exatamente o do anfitrião para o
27º Fórum de Governadores.
No
Acre, os gestores públicos, estaduais e municipais, vivem no universo paralelo
que permite acreditar na existência de uma economia baseada no agronegócio da
pecuária extensiva que se encontra em franca expansão sem precisar, pasmem, de
desmatamento.
Dado
que é impossível e bastante óbvio a criação de gado ou o cultivo de pasto
embaixo de uma floresta tropical densa e úmida, as autoridades do Acre defendem
o projeto econômico de um agronegócio, que se resume à pecuária extensiva com o
boi solto no pasto, que não desmata e por isso imaginam possuir certo grau de
sustentabilidade.
Sendo
que a estagnação da economia e a destruição florestal representam a dura
realidade dos acreanos.
Finalmente,
não precisa de muito esforço intelectual para entender que a única
possibilidade de desenvolvimento sustentável no Acre e na Amazônia depende do
desmatamento zero, contudo, como bem sabem os alcoólatras, se ninguém sequer
reconhece o problema, só resta perdoá-los por não saberem o que dizem.
Nada
mais triste e desanimador que assistir à comitivas do governo do Acre
participando de reuniões internacionais, inclusive sobre o Acordo de Paris que
é considerado o mais expressivo pacto mundial contra o desmatamento, defendendo
o absurdo de um agronegócio que depende da ampliação do desmatamento para
ganhar escala e se viabilizar.
Um
misto de insensatez e estupidez infinita que coloca todos nós em um universo
paralelo e, o pior, cada vez mais isolado e distante do mundo!
* Engenheiro Florestal (UFRuRJ), Mestre em Política
Florestal (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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