Europa não comprará carne de área desmatada na Amazônia após 2020
* Ecio Rodrigues
Em uma decisão aplaudida pelos ambientalistas a União Europeia
aprovou o marco temporal do desmatamento de florestas, quando realizado para
produção de comodities do agronegócio.
Pela nova normatização, não entrará no mercado europeu produtos,
sobretudo carne bovina e soja, oriundos de países em que as áreas de florestas
usadas para o cultivo tenham sido desmatadas após dezembro de 2020.
Por mais que pareça superficial a regra possui extrema facilidade
de aplicação, em comparação com o clássico e complexo rastreamento da cadeia
produtiva, posto que a comprovação do ano em que se deu o desmatamento pode ser
feita com simples observação de imagens de satélites disponíveis e de
baixíssimo custo em todos os países.
Embora a regra seja válida para importações de todos os
continentes o recado para os produtores localizados na Amazônia parece bastante
claro.
Mesmo que a participação dos europeus na exportação do agronegócio
brasileiro não chegue a 20%, decerto os produtores envolvidos com a pecuária
extensiva na Amazônia devem receber o maior impacto da medida.
Choradeiras à parte é bem-vinda toda decisão de política econômica
aprovada em nível nacional e internacional que ajude a inverter a tendência de
alta do desmatamento na Amazônia, observada desde 2012, único ano em que ficou
abaixo de 5 mil quilômetros quadrados.
Reduzir a fatia de mercado e a consequente competitividade da
pecuária extensiva, atividade que ocupa aproximados 80% da área destinada para
a agropecuária, contribuirá no curto prazo para o desmatamento zero da
Amazônia.
A determinação dos europeus, por sinal, suscita um dilema antigo,
que perdura há mais 50 anos, em relação ao crescimento econômico a partir da
pecuária extensiva ou da biodiversidade florestal.
Alguns defendem que a vocação produtiva natural da Amazônia são as
terras (e não a floresta e as águas), embora exista farta literatura científica
sobre a qualidade inferior da fertilidade dos solos amazônicos em comparação
com os da região sudeste do país.
Outros, com amplo apoio internacional e de parcela do movimento
ambientalista nacional, assumem que a exploração comercial da biodiversidade
florestal pode prover a melhoria da qualidade de vida demandada pela população
da região.
A partir do basta na usual justificativa do desmatamento para
alimentar o mundo, como fez a regra aprovada na Europa, a defesa que todos, sem
exceção, os atuais governos estaduais amazônicos fazem da destruição florestal
inevitável para aplacar a fome se tornou, no mínimo, constrangedora.
Tudo indica que os defensores da saída econômica pela floresta, ou
da bioeconomia como preferem os planejadores do governo federal, venceram o
dilema e a ONU, em vários momentos, alertou o Brasil sobre a escalada do
desmatamento na região.
Ninguém deixará de lembrar que os fundos de investimentos
internacionais, que costumam fazer vista grossa para a gritaria ambientalista,
se curvaram diante do impacto das mudanças climáticas decorrentes da
substituição das árvores da Amazônia por capim.
Finalmente, todos reconhecem que não será nada fácil reduzir a
hegemonia econômica da pecuária extensiva na Amazônia em pequena e grandes
propriedades, mas o marco temporal do final do desmatamento legal ou não
amarrado em 2020 foi um passo de importância considerável.
Mas uma coisa é certa, diante de uma área desmatada em 2019, 2018
e assim por diante, na Amazônia parecerá melhor ao importador europeu que não
corre riscos, comprar a vaca dos gaúchos!
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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