Acre será ponto cego nas Rotas de Integração do Mercosul
* Ecio Rodrigues
Poucos se deram conta, mas tudo indica que as estatísticas atuais de
produção do agronegócio do Acre bem como suas projeções para os próximos 20
anos, não se mostraram atrativas para justificar investimentos na integração
regional.
Nada mais compreensível que a sociedade acreana se distancie do
debate, complexo diga-se, sobre o processo de integração da economia estadual
na região amazônica e, por óbvio, com os países fronteiriços.
Entretanto não há justifica para que os gestores de governo e os
políticos com mandato na Assembleia Legislativa e no Congresso Federal
(deputados e senadores), não se envolvam na definição das obras para a
logística que irá promover a integração econômica com o Peru e a Bolívia, por
exemplo.
Na expressão “ponto cego” do título reside a definição mais
acertada sobre o destino da economia no Acre, uma vez que o Mercosul aprovou
cinco Rotas de Integração comercial que, em um olhar mais aproximado, coloca a
economia estadual e uma situação, no mínimo, preocupante.
Fundado em 1991 o Mercosul é uma resposta da América do Sul ao
bloco econômico criado na Europa e na América do Norte. Em termos práticos tem
por objetivo ampliar a quantidade de bens e trabalhadores que circulam entre os
países do bloco, de maneira diferenciada e facilitada, em relação aos países
que estão fora do bloco.
Regras alfandegárias para passagem de caminhões, barcos e trens, foram
flexibilizadas e a mobilidade das pessoas entre os países, sem precisar de
passaporte por exemplo, foram permitidas de modo a intensificar o contato e o
intercambio comercial entre os povos.
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai são países fundadores e o
bloco atualmente possui outros sete países associados, incluindo a entrada da
Bolívia que se encontra em trâmite para validação.
Em reunião realizada no início de 2024 o bloco aprovou, por
unanimidade, o investimento em projetos para construção de ferrovias, hidrovias
e rodovias, que vão fortalecer a logística e ampliar, de maneira considerável
nos próximos dez anos, a quantidade de mercadorias e pessoas que transitam em
todo continente.
Um conjunto de cinco rotas comerciais foram definidas, incluindo a
ligação do Amazonas com o Equador, Roraima com a Venezuela e o Amapá com a
Guiana, com o propósito de melhorar a dinâmica econômica no extremo norte do
país.
Da mesma forma que para o extremo sul a prioridade será a
infraestrutura de logística para o comércio entre os gaúchos brasileiros com o
Uruguai, Argentina e Chile.
Contudo, os investimentos de maior significado para os acreanos se
encontram na integração da região centro-oeste do país.
Partindo de Rondônia, mas com concentração mais expressiva de
recursos financeiros no Mato Grosso do Sul, o transporte de cargas dos
produtores brasileiros, em especial grãos e celulose de eucalipto, devem chegar
ao Oceano Pacífico sem precisar rodar até o porto de Santos, no Oceano
Atlantico.
Com o sugestivo nome de Rota de Capricórnio, a logística partirá
dos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, que serão ligados
por via fluvial, ferroviária, aérea e rodoviária com o Paraguai, Argentina e
Chile.
Pela porção sudoeste de Rondônia, após as cidades de Pontes e
Lacerda os investimentos vão ser orientados segundo a Rota do Quadrante Rondon,
incluindo a ponte entre Guajará-Mirim e a Bolívia.
Tudo indica que o antigo e repetido sonho de uma rota comercial em
direção ao pacífico passando pelo Acre foi somente sonho e nenhum político
acreano se deu conta.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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