Basa deveria apoiar restauração de mata-ciliar na Amazônia
* Ecio Rodrigues
Desde o
século passado o Banco da Amazônia, apesar de entregar para a pecuária
extensiva a maior quantia do Fundo Constitucional do Norte destinada ao crédito
rural, repete propaganda enganosa afirmando apoiar a sustentabilidade da região.
A
propaganda é enganosa posto que ninguém pode negar, após uma série robusta de
medições e estatísticas realizadas com rigor científico pelo Inpe desde 1988,
que a pecuária extensiva é a principal responsável pelo desmatamento da
Amazônia.
Por óbvio, fornecer
crédito para a pecuária extensiva é exatamente o mesmo que financiar o aumento
anual do corte raso de florestas para liberar espaço, ou terra, para plantios
de capim na Amazônia.
Resumindo, os
financiamentos aprovados pelo Basa para pecuária extensiva degradam a vida na
Amazônia uma vez que desmatamento, seja legalizado ou não, jamais trará sustentabilidade
econômica, social e ecológica para a região.
Restaria
ainda o argumento, igualmente fútil diga-se, de que o financiamento para pecuária
extensiva foi importante em um momento de transição, quando o crédito para o extrativismo,
razão da criação do Banco da Borracha que antecedeu ao Basa, se esgotou com a
derrocada da produção de borracha de seringal nativo, substituída pela borracha
cultivada em São Paulo.
Entretanto
isso é coisa do século passado e, por suposto, não precisa continuar assim. Há
movimentações de mercado e de política pública para tornar a restauração
florestal um atrativo para investimentos estatal e, em especial, do setor
privado.
Não à toa a
ONU proclamou a década que começou em 2021 como “Década da Restauração de
Ecossistemas”, com meta quantitativa de restaurar um bilhão de hectares de
ecossistemas nativos em todo o mundo até 2030 conforme deliberado no Acordo de
Paris (veja mais aqui: Associação Andiroba).
Ainda em
2017 foi publicado o Decreto 8.972 que instituiu o Plano Nacional de Recuperação
da Vegetação Nativa – Planaveg, com meta comprometida de restaurar 12 milhões
de hectares (veja mais aqui: Associação Andiroba).
Discutir a
oferta de financiamento para reflorestamento e restauração florestal, em um
país com demanda para mais de 70 milhões de hectares foi o que motivou o
encontro de mais de 90 agentes estatais e investidores mobilizados pelo RESET
CONECT (veja mais aqui: Reset
| Informação para quem transforma (uol.com.br).
Não se
trata de demanda de organizações não governamentais e ambientalistas, como foi
no século passado, reflorestar e restaurar a mata-ciliar de rios amazônicos
ganhou relevância e atrairá investimento em todo planeta.
Para não
ser ultrapassado, o Basa deve rever, hoje, a quantia que deslocará da pecuária
extensiva para restaurar a mata-ciliar e a sustentabilidade da Amazônia.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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