Mercado regulado de carbono deve mobilizar políticos da Amazônia
* Ecio Rodrigues
Difícil entender
as razões que fazem com que determinados temas entrem para a agenda política de
uma região e passe a mobilizar seus representantes eleitos para o parlamento estadual
e federal, mas com certeza o mercado de carbono na Amazônia ainda não faz parte
dessa agenda.
Após
aprovação pelos senadores o projeto de lei que institui o denominado mercado
regulado de carbono no país está sendo analisado pelos deputados federais sem
que nenhum parlamentar, dos nove estados amazônicos, priorize o tema.
Aqui cabe
um adendo. A Câmara dos Deputados tem demonstrado, nos últimos dois anos, uma agilidade
e eficiência bem superior na aprovação de assuntos polêmicos e urgentes quando comparada
com a letargia e, às vezes, omissão demonstradas pelo Senado.
Sendo
assim, contando com o desempenho já demonstrado pelos deputados federais, tudo
indica que em breve contaremos com uma legislação que forneça segurança
jurídica aos investidores no auspicioso mercado de carbono.
Os poucos
que estão lendo esse artigo devem questionar que o mercado de carbono é
importante para o país e não somente para a Amazônia, o que é correto.
Contudo,
nenhum dos outros cinco biomas nacionais (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga,
Pantanal e Pampas), possuem a quantidade de carbono estocado em biomassa como a
Amazônia, talvez mesmo que somados.
Acontece
que além do valor em estoque da matéria-prima conhecida
por biomassa florestal há outro ponto importante
para a bancada de políticos amazônicos considerarem.
Existem
evidências científicas robustas que colocam o mercado de carbono como um dos
mais importantes, senão o principal, mecanismos para alcançar, no curto prazo, o
desmatamento zero da Amazônia.
Por curto prazo
entenda-se antes de 2030, o ano limite assumido pelos brasileiros quando se comprometeram
com as metas sobre desmatamento da Amazônia definidas para o Acordo de Paris,
ainda em 2015.
O fato é
que a partir do mercado de carbono a Amazônia pode adquirir atratividade
econômica nos moldes do ciclo da seringueira, Hevea Brasiliensis, árvore
que dominou o mundo ao substituir a exportação de caucho, seiva semelhante ao látex
mas que dependia da derrubada da árvore para sua extração, ao se tornar produto
imprescindível para a poderosa indústria do automóvel.
Contudo e
infelizmente ao se distanciar da agenda política após a segunda guerra, desde a
década de 1990 a produção amazônica de borracha foi superada pelos cultivos
homogêneos do sudeste do país, em especial dos produtores paulistas.
A conclusão
é que em 2023 a borracha do seringal nativo da Amazônia é extraída em escala insignificante,
com estatísticas difíceis de mensurar, produtividade irrisória e em poucos
locais onde a importância eleitoral é maior que a econômica.
O mercado de
carbono não pode seguir pelo caminho da borracha. Se não for prioridade para os
políticos da Amazônia será para os do sudeste do país.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
Comentários
Postar um comentário