Política e queimada zero no Acre
* Ecio Rodrigues
Muitos ainda se perguntam, mas não há dúvida as duas maiores tragédias
ambientais da Amazônia são o desmatamento e a queimada.
No Acre, por exemplo, além dos entraves ao crescimento econômico desmatar
e queimar comprometerá, no curto prazo, o fornecimento de água para os mais de
80% da população e as empresas localizadas em área urbana, sobretudo na capital
Rio Branco.
Nunca é demais repetir, a escassez ou fartura de água significa
fracasso ou sucesso, nessa ordem, de empreendimentos instalados no setor
primário, secundário e terciário da economia.
Reconhecer que o licenciamento ambiental que libera o produtor
rural para continuar queimando todos os anos coloca um limite ao crescimento
econômico do Acre é crucial para solucionar o problema.
A pergunta repetida às tantas pode ser resumida assim: É possível
produzir no Acre sem queimar? E a resposta, igualmente repetida pelos
pesquisadores da conceituada Embrapa: Claro que SIM!
Alguns, contudo, vão alegar que falta trator, assistência técnica,
ramal trafegável, crédito rural e mais um monte de dificuldades que obrigam o
produtor a queimar, o que nunca foi de todo verdade.
Mas, mesmo supondo que a resposta fosse negativa e que a produção
rural no Acre dependesse da queimada. A pergunta, ainda mais elucidativa, seria:
Há razão para promover uma produção rural com retorno econômico incapaz de
pagar pelo ônus decorrente dos impactos sociais e ambientais?
Ainda melhor, a partir da ótica da justiça social: É justo obrigar
a sociedade urbana, que lota os hospitais devido aos efeitos da fumaça e que terá
que conviver com oferta de água cada vez mais escassa (e mais cara), a arcar
com as consequências das queimadas, como algo imprescindível à criação
extensiva de boi?
Não é preciso esforço matemático para chegar ao cálculo simplório de
que na maioria das cidades do vale do rio Acre (senão em todas), o mínimo legal
de 80% de manutenção da floresta na Reserva Legal da propriedade foi
ultrapassado desde o século passado.
Conclusão, o produtor está queimando uma área que sequer deveria
estar desmatada. Ou seja, ao retirar a floresta nos 80% de Reserva Legal o produtor
tornou ilegal o licenciamento ambiental de queimadas em propriedades
localizadas na bacia hidrográfica do rio Acre.
Voltando às questões respondidas acima, o produtor no Acre pode e
deve produzir sem queimar, mas isso não vai acontecer por vontade própria. Será
preciso que os efeitos insuportáveis das queimadas ganhem a agenda política e interfira
no resultado da eleição.
Tecnologias foram desenvolvidas por instituições do porte da
Embrapa para evitar o uso de queimadas na agricultura e na pecuária. Da mesma
forma que centenas programas de conscientização de produtores foram realizados em
todo o Acre.
Resumindo, existe tecnologia alternativa ao uso do fogo, o
produtor está conscientizado e há reconhecido potencial produtivo na
biodiversidade florestal, todavia, as queimadas persistem.
Somente com determinação política a queimada estará banida em 2023
no Acre. Mas pense nisso agora, no momento do voto.
*Engenheiro Florestal
(UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
Comentários
Postar um comentário