Na Amazônia, política florestal não é prioridade para candidatos
* Ecio Rodrigues
Todos os nove candidatos aos
governos estaduais na região amazônica prometem monitorar e controlar o
desmatamento e as queimadas por meio do investimento público, exorbitante diga-se,
em fiscalização.
Em contrapartida, nenhum
candidato ou governador no exercício do mandato discute uma política florestal
estadual capaz de oferecer uma alternativa de renda que convença o produtor
rural a deixar de investir seu dinheiro e trabalho na pecuária.
Por óbvio, o discurso da
fiscalização agrada mais os eleitores que a complexa possibilidade de tornar a criação
extensiva de boi menos competitiva ou oferecendo pouco lucro para o
investimento privado. E, todos sabem, que os políticos prometem o que o eleitor
espera ouvir.
A conclusão é simples, somente
quando a sociedade entender que o aparato de fiscalização é caro, pouco
eficiente e incapaz de resistir à corrupção não haverá saída, a política
florestal jamais será alçada à condição de prioridade para a intervenção dos políticos
e do orçamento público.
Sem querer desanimar, a triste
notícia é que o cenário em que a fiscalização prevalece sobre a alternativa de
renda à pecuária se repete há mais de 40 anos.
Mesmo diante de comprovação
científica sobre o fracasso da fiscalização, com a persistente ampliação da
taxa de desmatamento exposta nas estatísticas do Inpe todos os anos, com raras
exceções desde 1988, o debate sobre política florestal como antídoto ao desmatamento
está longe de acontecer.
De maneira mais ativa e quase
sempre sob pressão internacional que mais parece ameaça, o governo federal se
vê obrigado a demonstrar iniciativa na busca do desmatamento zero na Amazônia.
A despeito de não colocar o dedo
na ferida e deixar de oferecer crédito rural para o gado solto no pasto na
Amazônia, o governo federal, sobretudo até 2019, elaborou e aprovou no
parlamento uma série de legislação relacionada à política florestal.
Desde 2006 vigora, por exemplo, a
Lei de Gestão de Florestas Públicas, considerada um passo definitivo para
concessão de áreas de florestas para exploração comercial da biodiversidade
florestal por indústrias e empresas particulares.
Infelizmente, criar unidades de
conservação destinadas à produção de madeira e de outros bens e serviços oriundos
da biodiversidade florestal tendo por base uma oportuna legislação aprovada há
mais de 15 anos, não consta dos planos de governos dos políticos na Amazônia.
Pode ser que sendo o longo prazo
uma característica das políticas florestais – em vista do período de maturação
dos povoamentos e do ciclo de corte que no caso da Amazônia pode chegar a 30
anos -, a sociedade e os políticos prefiram resolver entraves de curto prazo.
Uma pena, pois um plano de
governo, a despeito das diferentes realidades estaduais da Amazônia, que se
ancore na sustentabilidade de uma economia de baixo carbono estruturada na
biodiversidade florestal seria capaz de superar os ganhos imediatos da criação
extensiva de gado. Mas isso depende da operacionalização de uma política
florestal, hoje, no curto prazo.
Perenidade da política florestal é
palavra-chave.
Afinal, política florestal deve
ser política de estado e os futuros governantes devem acreditar no potencial da
biodiversidade florestal da Amazônia, agora.
*Engenheiro Florestal
(UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
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