Dinamarca taxa o arroto do boi para incentivar mercado de carbono
* Ecio Rodrigues
Enquanto pelo lado de cá a criação extensiva de
gado na Amazônia é incentivada com crédito subsidiado oferecido por bancos
estatais como o Basa, a Dinamarca decidiu taxar o boi.
Para aqueles que não acompanham os detalhes que
envolvem a incapacidade do governo federal para reduzir a área de florestas que
todos os anos, sem interrupção, é desmatada na Amazônia vale uma pequena e
rápida explicação.
Primeiro ponto importante.
O mapeamento da área desmatada até 2023 não deixa
dúvida de que a criação extensiva de boi ocupa em média 80% do solo em que as
árvores são substituídas por capim, chegando a mais de 90% em locais como o
Acre.
Segundo ponto importante.
Não existe predominância de pequena ou grande
propriedade, a pecuária extensiva ocupa todos os estabelecimentos rurais na
Amazônia sem distinção, sendo que a quantidade de pequenos criadores de boi
solto no pasto pode chegar a dez vezes mais que a quantidade de grandes
estabelecimentos rurais.
Terceiro ponto importante.
Todo produtor, localizado em realidade bem
diferenciada, tem em comum a prática da pecuária extensiva, uma atividade rural
que é hegemônica na Amazônia e que se viabiliza por meio do desmatamento de
novas áreas de florestas, acessa o crédito rural por meio do FNO e do Pronaf
(Programa Nacional de Agricultura Familiar), em sua maior parte gerenciado pelo
Basa.
Conclusão, o dinheiro proveniente do crédito
estatal subsidiado fornece o capital para ampliação do plantel de boi solto no
pasto que, por sua vez, garante as taxas anuais de desmatamento.
Para frear o ciclo vicioso representado pela
pecuária, a Dinamarca tomou uma decisão única e histórica.
Vai cobrar do produtor o equivalente a 100 euros
por ano por cada boi, em uma iniciativa pioneira no mundo, para instituir taxa
de carbono na pecuária.
O valor de 100 euros foi calculado a partir da
quantidade de carbono presente no gás metano expelido pela vaca e boi no
estrume, flatulência e arroto. Animais ruminantes produzem metano no processo
digestivo do capim.
Para honrar o compromisso assumido no Acordo de
Paris, assinado em 2015, os dinamarqueses precisam reduzir a participação da
pecuária nas emissões de carbono, hoje equivalente a 50% do total.
Resumindo, taxar o boi e zerar o financiamento da
pecuária extensiva pelo Pronaf e Basa é caminho para o desmatamento zero da
Amazônia.
*Engenheiro
florestal, mestre em Política Florestal e doutor em Desenvolvimento
Sustentável.
Comentários
Postar um comentário