Industrializar a biodiversidade florestal da Amazônia é a saída
* Ecio Rodrigues
Existe uma
dificuldade crônica e, até hoje, insuperável para industrializar um leque de
produtos oriundos da biodiversidade florestal da Amazônia e duas verdades
científicas ajudam a explicar o impasse na indústria da biodiversidade.
De um lado
há elevados riscos para conseguir retornos compatíveis aos investimentos quando
se trata da manufatura de sementes florestais, óleo de buriti ou seiva de
jatobá, por exemplo.
Por outro lado,
as dificuldades criadas pelos órgãos de controle ambiental, sobretudo o Ibama e
ICMBio, adicionam aos riscos inerentes ao retorno do capital uma insegurança
jurídica que torna o investimento particular quase inacreditável.
É notória e
reiterada tal qual ladainha pelo empresariado regional a hostilidade dos
técnicos e fiscais da esfera ambiental nos três níveis de governo (federal,
estadual e municipal) quando requisitados para elaborar parecer sobre algum
tipo de investimento empresarial privado na Amazônia.
Some-se ao
risco econômico, à insegurança jurídica e à hostilidade dos analistas de órgãos
ambientais uma ausência inexplicável de tradição nacional para investir na
industrialização seja do que for.
Como
explicam os estudiosos acontece que a industrialização por aqui chegou mais
tarde, bem depois de assentar nos países do hemisfério norte.
Até 1808,
quando o país saiu do isolamento com a abertura dos portos por Dom João VI, a
manufatura não avançou porque a prioridade de Portugal residia na exportação de
produtos agrícolas.
Mais tarde,
após a independência em 1822 o desafio seria atrair e formar trabalhadores para
atender a demanda da indústria, uma tarefa que se mostrou complexa demais em um
país de predominância rural.
Para os
pensadores sobre a formação social e econômica do Brasil, em especial Caio
Prado Júnior e Celso Furtado, o povo brasileiro emergiu da conjugação de
processos históricos e de uma mestiçagem intensa do português com negros e
indígenas, além do contingente de imigrantes europeus e asiáticos recebidos
para absorção pela indústria.
Sendo
assim, estaria no enraizamento e afinidade extrema da população com a economia
representada pelo setor primário uma das justificativas para explicar, em
parte, a tardia industrialização nacional e quase inexistente na Amazônia e,
com muita razão, o histórico peso do agronegócio para o PIB nacional.
Todavia, há
uma exceção alentadora. O Brasil é líder mundial nas indústrias do setor
florestal e na manufatura de produtos oriundos de florestas plantadas de
eucalipto e pinus.
Trazer essa
liderança de mercado para o beneficiamento industrial da biodiversidade
florestal da Amazônia pode ser a saída.
Afinal,
ampliar a competitividade da biodiversidade florestal promovendo sua
industrialização por meio de uma política industrial conduzida pelo governo
federal significaria estabelecer mecanismos permanentes que fortaleçam seu
potencial para gerar riqueza.
E ninguém
pode duvidar de uma coisa: a industrialização da biodiversidade florestal é a
melhor resposta para o desmatamento zero da Amazônia.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
Comentários
Postar um comentário