COP 27 será decisiva para mercado internacional de carbono

 * Ecio Rodrigues

É bem provável que o principal avanço da vigésima sétima Conferência das Partes, ou COP 27, da Convenção do Clima assinada na Conferência da Organização das Nações Unidas ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, seja a efetivação do mercado internacional de carbono.

Há elevada expectativa em relação ao que acontecerá no Egito até dia 18 de novembro de 2022, uma vez que o último relatório do painel composto por mais de 3.000 cientistas de todo mundo (IPCC da sigla em inglês) foi categórico ao afirmar a gravidade da crise ecológica.

Pode parecer, para aqueles que não acompanham as discussões acerca do aquecimento global, que os políticos, de maneira proposital ou não, são lentos na tomada de decisão sobre ações mais drásticas para conter a elevação da temperatura do planeta. Contudo, todos devem concordar que são negociações por demais complexas.

A história do pacto climático mundial tem início na reunião da ONU em Estocolmo, em 1972, avançou muito na Rio 92, em 1992, passou pela Rio mais 5, em 1997 e Rio mais 10, em 2002, que tiveram como principal resultado a assinatura e operacionalidade do Protocolo de Quioto.

Por sinal, foi a partir do Protocolo de Quioto que cada país se viu obrigado a se comprometer com metas de redução do lançamento de CO2 na atmosfera e, o mais importante, a discutir sistema de negociação das reduções entre os países, o que deu origem ao que se denomina, atualmente, de mercado de carbono.

Agora em 2022, passados 30 anos no que se poderia chamar de Rio mais 30, as razões para a expectativa sobre o resultado da COP 27 são compreensíveis.

Se, na série de reuniões anteriores havia dúvida e por isso o apelo ao Princípio da Precaução, para convencer os incrédulos, agora todos concordam que o planeta esquenta de maneira perigosa e irreversível e que o mercado de carbono pode impulsionar o processo de mitigação.

A ideia força, por sinal bem simples, é que ao negociar a quantidade de carbono estocado em áreas de florestas nativas, como a fartura existente na Amazônia ou em reflorestamentos, os países vão conseguir os recursos financeiros requeridos pelos projetos de manejo ou cultivo de florestas.

Desde que o mercado de carbono ajude a garantir o fluxo de dinheiro, as áreas de florestas deverão ser ampliadas mundo afora garantindo a retirada da atmosfera do carbono que aquece o planeta e, o melhor, sua imobilização no tronco das árvores ou em bens fabricados a partir dele. Agentes econômicos em todo planeta se deram conta disso.

Acontece que os empresários estão preocupados com a sustentabilidade de suas indústrias, da mesma forma que os ecologistas estão certos de que o planeta não suporta a elevação da temperatura.

É dessa confluência de opiniões que deverá surgir uma nova base econômica: a economia de baixo carbono.

Nesse ambiente propício para decisões concretas, os países não poderão sair da COP 27, sem prazos rigorosos ou com metas tímidas para reduzir a quantidade de fumaça que colocam nos céus.

Não ha tempo para jogos de cena como faz o governo brasileiro desde 2019.

A emergência é real e os dois alvos principais das emissões de carbono não podem ser poupados. A geração de energia elétrica sem petróleo e o desmatamento zero da Amazônia devem ser priorizados pelo mercado de carbono.

Os países terão que se comprometer com novas fontes energéticas e com o fim do desmatamento, legal e ilegal.

Para Amazônia a COP 27 será uma oportunidade para mostrar sua biodiversidade florestal como ativo econômico diferencial no mercado internacional de carbono.

 

*Engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).

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