Dinheiro da cooperação internacional voltará à Amazônia em 2023
* Ecio Rodrigues
Desde a
década de 1980, países europeus, instituições financeiras e outras organizações
mundiais passaram a doar expressivas somas de dinheiro ao Brasil, com o objetivo
de zerar o desmatamento na Amazônia e viabilizar a exploração sustentável do ecossistema
florestal.
O avanço
observado nas reservas extrativistas a partir de 1988, quando o Incra criou no
Acre o primeiro PAE (projeto de assentamento extrativista) numa área de 41.000
hectares, dá uma boa medida da importância desse sistema de cooperação e dos
resultados alcançados.
Acontece
que o investimento financeiro proveniente do orçamento público sempre foi
tímido, no que respeita ao desafio de fomentar alternativas produtivas baseadas
na biodiversidade florestal e que, desse modo, dependem do fim do desmatamento.
Por seu
turno, a cooperação internacional nunca se absteve de priorizar esse tipo de iniciativa.
As duas
primeiras reservas extrativistas criadas no país (Chico Mendes e Alto Juruá), também
localizadas no Acre, contam com infraestrutura e informações que possibilitam o
aproveitamento comercial da biodiversidade graças ao aporte fornecido pelo BID -
Banco Interamericano de Desenvolvimento.
E além do
BID, os projetos comprometidos com a promoção de uma economia de baixo carbono foram
patrocinados por Banco Mundial; Agência de Cooperação do Canadá; e Organização
Internacional de Madeira Tropical.
Não há como
deixar de mencionar ainda o PPG7 (Programa Piloto para Proteção das Florestas
Tropicais), o maior e mais abrangente programa de transferência de recursos voluntários
para a Amazônia, custeado pelo G7, o grupo dos 7 países mais ricos do mundo.
Pode-se
dizer que, hoje, graças às subvenções recebidas a fundo perdido, a reserva
extrativista é uma realidade, tendo sido incorporada ao Snuc como um tipo
especial de unidade de conservação de uso sustentável e sendo reconhecida em
todo o mundo como modelo de ocupação produtiva adequado para a região amazônica.
Voltando ao
exemplo do Acre, só nesse estado existem atualmente 5 reservas extrativistas –
que, juntas, cumprem a função de conservar um total significativo de 3 milhões de
hectares de superfície coberta com floresta nativa.
Sem dúvida o
contexto em que se inserem essas áreas é bastante diferente daquele que caracterizava
os antigos seringais.
A maioria dispõe
de serviços públicos de saúde e educação, bem como de informações relacionadas a
técnicas de extração, beneficiamento e comercialização de um leque variado de
produtos – incluindo sementes, resinas, óleos, fármacos, frutas tropicais e fauna.
O que não seria possível sem as doações recebidas.
Contudo, desde
2019, quando o governo, logo depois que assumiu o país, passou a hostilizar, à
sua maneira estúpida, o auxílio financeiro destinado à floresta amazônica, as
transferências foram suspensas e os recursos, congelados pelos países doadores.
Em
decorrência, por 4 longos anos, de 2019 a 2022, a cooperação internacional ficou
comprometida e uma vultosa quantia (de dinheiro dado!) permaneceu inacessível
no Fundo Amazônia.
Em 2023,
finalmente, terá início um novo ciclo. Ainda bem. O caminho ainda é longo para
tornar a biodiversidade florestal competitiva, e não dá para abrir mão de
nenhuma ajuda, quanto mais de recursos que podem chegar à casa dos bilhões de
dólares.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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