Vote pelo Acre

 * Ecio Rodrigues

Nunca é demais repetir. O maior problema econômico, social e ambiental do Acre é o desmatamento.

Bem mais que um contratempo ao processo de crescimento econômico baseado na pecuária, como comumente se considera, o desmatamento pode, por exemplo, comprometer o fornecimento de água nas bacias hidrográficas dos rios Juruá e Acre.

As consequências da falta d’água são terríveis, como as crianças cedo aprendem na escola. Com racionamento de água a indústria não funciona, o comércio também não, e tampouco a principal responsável pelo desmatamento, a pecuária.

Tal constatação é crucial para encontrar uma solução.

Explicando melhor. A história da ocupação social e econômica do Acre é repleta de exemplos da estreita relação do produtor com a biodiversidade florestal.

Entretanto, foi a partir da década de 1970, com a expansão da colonização por meio da pecuária extensiva que a produção oriunda da biodiversidade florestal, exceto para a madeira disponibilizada no rastro do desmatamento, perdeu participação na composição do PIB do Acre.

Quase 20 anos mais tarde, no final da década de 1980, sobretudo no período que antecedeu à realização da Conferência da ONU para Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, o desmatamento para plantio de capim se tornou exemplo de um modelo produtivo perigoso para o sistema ecológico da região.

O Acre, dado sua condição histórica de maior produtor de borracha, bem como devido a presença insistente de muitos produtores ainda residentes nos seringais, recebeu em maior grau os efeitos da destruição das florestas.

Com significativo apoio do movimento ambientalista, nacional e internacional, ávido por alternativas concretas para barrar a continuidade do desmatamento, o Acre transformou os seringueiros e suas lideranças sindicais em ícones de uma luta mundial contra o desmatamento, materializada na criação de Reservas Extrativistas.

Instituídas como Projeto de Assentamento Extrativista e, posteriormente, como unidades de conservação o fato é que as Reservas Extrativistas traziam em si a polêmica possibilidade de se estabelecer uma economia baseada na biodiversidade florestal no Acre capaz de gerar renda e, o mais importante, sem desmatamento.

A experiência das Reservas Extrativistas é o grande legado do Acre que contagiou a Amazônia e chegou, inclusive, a ser exportada para outros países. A cada ano são criadas novas unidades e no Acre representam mais de 20% do território.

Ao todo são cinco Reservas Extrativistas que somam mais de três milhões de hectares onde a criação extensiva de boi não pode ser exercida com fins comerciais, onde a única alternativa produtiva possível para geração de renda é a biodiversidade florestal, onde o desmatamento é inadmissível.

A cada eleição o legado do Acre contra o desmatamento é posto à prova.

Segundo as medições realizadas pelo conceituado Inpe, um total de 871 km² de florestas foram desmatadas no Acre em 2021. Índice 23% maior que a área de floresta destruída em 2020.

Ainda de acordo com o Inpe, em 2022 o Acre superou a média mensal de queimadas nos últimos seis meses e nunca, desde 1998, queimou tanto no mês de setembro.

Por essas e outras, pense no Acre e vote pelo desmatamento zero.

 

*Engenheiro Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).

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