Retrospectiva Sustentabilidade da Amazônia na última década: 2010 a 2019
Para comemorar a nova década que está iniciando
em 2020, e como forma de apresentar uma mostra da realidade vivenciada entre
2010 e 2019 – no que respeita à sustentabilidade da Amazônia –, foram
selecionados e serão novamente postados, neste blog, artigos considerados
representativos, entre os 48 publicados semanalmente, todos os anos, no site da
Oscip Andiroba (http://www.andiroba.org.br/).
Dessa forma, um total de 10 artigos, um para
cada ano da década passada, serão republicados, a partir de 05 de janeiro,
durante 10 semanas.
Segue o primeiro artigo da série, publicado
originalmente em 18/07/2010:
Uso múltiplo da biodiversidade é o caminho para
Amazônia
* Ecio Rodrigues
A importância econômica e
social do extrativismo florestal na Amazônia é reconhecida desde os primórdios
da ocupação da região pelos colonizadores portugueses.
De maneira geral, a
exploração florestal foi o motor principal a garantir o estabelecimento dos
primeiros produtores portugueses na região. Esses pioneiros se esforçaram para
compreender os diversos usos conferidos pelas populações indígenas a um
igualmente diverso leque de produtos de florestais.
A produção florestal gerou,
no período da colonização, ciclos econômicos que foram fundamentais para a
instalação de uma infraestrutura considerável na região, bem como para a
permanência de um grande contingente de mão de obra.
Os ciclos econômicos
baseados nos produtos florestais se iniciaram com as espécies florestais
batizadas de “drogas do sertão” (em especial canela, cravo, cacau e
salsaparrilha), passando pelo óleo de tartaruga (que iluminou durante um bom
tempo as cidades amazônicas) e chegando ao seu mais importante produto: a
borracha.
Com a demanda crescente por
borracha, a Amazônia foi definitivamente ocupada por produtores, empresários e
trabalhadores florestais, originando-se uma riqueza jamais verificada na
região. Nenhum outro período da história econômica regional pode ser comparado,
em termos de prosperidade e opulência, ao período abrangido pelos quase 20 anos
de duração do ciclo econômico da borracha.
Mais recentemente, na
segunda metade do século passado, a importância dos produtos florestais para a
economia local ficou restrita à produção de madeira – que era efetuada sem a menor
preocupação com a manutenção dos estoques, tampouco com o emprego de técnicas
de manejo florestal.
Finda a relevância
econômica dos produtos florestais, a Amazônia se viu às voltas com a
instalação, em larga escala, de atividades baseadas na agropecuária.
Os efeitos nefastos da
substituição da floresta por monocultivos, sobretudo de forrageiras e grãos,
foram rapidamente sentidos, chamando a atenção do mundo para a aceleração dos
desmatamentos e das queimadas.
A busca por uma opção
produtiva mais adequada aos critérios de sustentabilidade fez ressurgir o
extrativismo, revigorado em função da expectativa que os ambientalistas
depositavam na atividade.
As populações tradicionais
da Amazônia, na condição de extrativistas que contribuíam para manter a floresta,
alcançaram espaço político prioritário.
Experiências produtivas
foram realizadas, no escopo de elevar o extrativismo ao nível tecnológico do
manejo florestal de uso múltiplo. A análise dessas experiências, com vistas à
sua multiplicação, deveria ser o objetivo principal de uma política pública
destinada a promover essa atividade em larga escala e em toda a Amazônia.
Afinal, o uso múltiplo da
diversidade biológica existente no ecossistema florestal da Amazônia é o melhor
caminho para a ocupação sustentável da região.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), engenheiro florestal,
especialista em
Manejo Florestal e mestre em Economia e Política Florestal
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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