“The Economist” condena desmatamento na Amazônia
* Ecio Rodrigues
A
edição de 1º de agosto da prestigiada revista inglesa “The Economist” faz, em
matéria de capa, um alerta a respeito dos riscos trazidos pelo aumento do
desmatamento na Amazônia brasileira.
Afirmando
que o Brasil pode “salvar a maior floresta da Terra – ou destruí-la”, o periódico
adverte quanto ao perigo que representa para o planeta a guinada promovida pelo
governo brasileiro na política ambiental desde janeiro de 2019.
Retratando
um cenário extremamente crítico, a matéria destaca a devastação da floresta
secular e descreve, com conhecimento, algumas ações do atual governo que classifica
como inaceitáveis – como o desrespeito às instituições e o incentivo ao
desmatamento.
Para a
revista, é inconcebível que autoridades públicas, cujas responsabilidades passam
pela valorização e fortalecimento das instituições, atuem no propósito de desmoralizá-las.
Não
faltam exemplos desse tipo temerário de conduta na esfera do governo federal.
O caso
mais recente, que contrapôs, de um lado, os ministérios do Meio Ambiente e de Ciência
e Tecnologia, e, de outro, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), evidencia
que o tom alarmante assumido pela reportagem tem razão de ser.
Acontece
que o Inpe, desde 1988, com base em imagens de satélite (sempre fotografadas no
período que vai de 01/08 a 31/07 do ano seguinte), calcula a taxa anual de
desmatamento na Amazônia.
De
excelência internacionalmente reconhecida – em especial nas instâncias de
monitoramento ambiental da ONU –, o trabalho desenvolvido pelo Inpe prima pela
precisão, servindo de referência a inúmeras teses e artigos científicos publicados
mundo afora.
Sem
embargo, os titulares dos dois ministérios, contrariados diante do registro de
aumento do desmatamento, demonstrando ignorância e não se dando conta da
gravidade de suas declarações, tampouco da repercussão negativa que teriam, levantaram
dúvidas em relação ao rigor e à isenção da instituição de pesquisa, chegando ao
ponto de afirmar – pasme-se! – que os cientistas do Inpe estariam a serviço de
ONGs internacionais.
(Sabe-se
lá o que diabos isso significa.)
Por
sua vez, órgãos ambientais também foram questionados e desqualificados pelo
ministro do Meio Ambiente – ou seja, pelo próprio gestor público responsável por
sua atuação.
Assim se
deu com o Fundo Amazônia, principal mecanismo público para captação de recursos
internacionais destinados ao controle do desmatamento. Sob a responsabilidade
do eficiente BNDES, a gestão do fundo foi desacreditada pelo ministro de
maneira ignóbil, de tão leviana.
“The
Economist” insta os países que compram a soja e a carne do agronegócio
brasileiro a “não tolerar o vandalismo” do governo com a Amazônia.
De
forma inusual, proclama a publicação que é considerada uma verdadeira bússola de
mercado pelos liberais do mundo:
“Os parceiros comerciais do Brasil devem
condicionar os acordos ao bom comportamento do país. O tratado firmado em junho
pela União Europeia e pelo Mercosul, bloco comercial sul-americano do qual o
Brasil é o maior membro, já inclui cláusulas para proteger a floresta tropical.
E é do interesse das partes que sejam obedecidas”.
O
alarme, como se observa, não vem de ecologistas esculachados pelo governo. Vem
da conceituada “The Economist”. A revista que o mundo lê. Não seria prudente
cuidar da Amazônia?
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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