Reflorestamento conservacionista será prioridade na COP30
* Ecio Rodrigues
A discussão sobre quais as espécies florestais que devem ser
usadas para recuperar com plantio de árvores, ou reflorestar, a área degradada
na Amazônia se arrasta por mais de 30 anos.
Com razões óbvias, uma vez que o solo degradado em sua imensa
maioria foi usado reiteradamente na atividade de criação extensiva de gado e,
em mais de 95% dos casos, com emprego da nefasta prática agrícola da queimada,
a seleção das árvores esbarra na adoção de duas estratégias até hoje irreconciliáveis.
Ou as árvores são plantadas exclusivamente para recuperar o solo
destruído pelo cultivo de capim e pisoteio do gado contribuindo assim para
restaurar a floresta que existia antes do pasto, ou a venda de algum produto originado
no tronco, folha ou fruto da árvore justificaria o investimento financeiro no
oneroso plantio.
Na segunda e mais defendida estratégia os economistas e contadores
se esforçavam em encontrar uma relação benefício x custo na análise de
investimento que atraísse os potenciais investidores, demonstrando o que todos
supunham, que investir no planto das árvores poderia ser mais vantajoso em
termos financeiros que os dividendos trazidos pela poupança e outras aplicações
de maior rentabilidade do mercado financeiro.
Quase sempre a resposta para o reflorestamento com estratégia
econômica na Amazônia incluía a árvore de seringueira, da espécie Hevea Brasiliensis, uma vez que a
produção de borracha em seringais cultivados permitiria auferir renda anual até
a venda da madeira, após uns 30 anos.
Infelizmente a praga do mal das folhas, causada pelo fungo Microcyclus ulei, tornou inviável o
reflorestamento econômico à base de seringueira na Amazônia, a despeito dos esforços em pesquisa e repetidos
sucessos alcançados pela reconhecida Embrapa em conseguir um clone resistente.
Com demanda bem reduzida para poupa de celulose ou madeira, as
árvores de eucalipto, por sua vez, apresentam viabilidade econômica em pouquíssimas
localidades e regiões da Amazônia.
No primeiro caso devido à logística relacionada à distancia entre
o plantio e as industrias de papel e celulose, quase todas instaladas no Cluster
de Celulose do Mato Grosso do Sul e na região sudeste.
E no segundo caso devido à quantidade inexpressiva do consumo de
moirões de eucalipto para cercar e construir currais no manejo da atividade de
pecuária extensiva na Amazônia.
Entretanto a robusta comprovação científica da tese sobre as
distinções entre o reflorestamento econômico e conservacionista pode estar,
felizmente diga-se, com os dias contatos na realidade da Amazônia.
Ocorre que dois novos mercados, considerados de elevado potencial
no futuro, começam a atrair investimentos, sobretudo após a assinatura do maior
pacto global para redução da temperatura do planeta, o Acordo de Paris, ainda
em 2015.
Carbono e água, o primeiro por ser tirado da atmosfera e retido na
celulose quando crescem as árvores e o segundo devido ao serviço prestado pelas
árvores para manutenção da vazão dos igarapés e rios, torna o investimento em
reflorestamento atraente por ser ao mesmo tempo econômico e conservacionista.
A floresta que existia antes do inicio da criação do boi solto no
pasto, poderá ser restaurada não somente pelo romantismo dos incansáveis e necessários
ambientalistas preservacionistas, mas por ser viável para investidores.
Embora jamais esqueçamos a meta do desmatamento zero da Amazônia,
na COP30 o reflorestamento conservacionista poderá atrair mais investimento
privado.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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