COP30 pode mudar visão sobre o desenvolvimento da Amazônia

 * Ecio Rodrigues

Pode parecer que não, mas a Conferencia das Partes para as negociações dos acordos originados da Convenção do Clima, conhecidas simplesmente por COP, desde a Rio92 promoveram avanços significativos na mitigação da crise originada pelo  aquecimento do planeta.

Desde que foi superado o período em que faltavam comprovações sobre o aumento da temperatura, lá pelo final do século passado e após um contundente relatório do Painel de Cientistas da ONU, ou IPCC da sigla em inglês, todos os países do planeta assumiram compromissos para reduzir o impacto global resultante da alteração do clima.

Por aqui não foi diferente.

Deixando de lado ou tentando esquecer o nebuloso período entre os anos 2018-2022, em que a liderança nacional em Brasília não tinha competência para entender a dimensão do problema, os brasileiros acertaram em várias medidas de controle da carga nacional de carbono jogado na atmosfera.

Com elevado peso na emissão de carbono decorrente do desmatamento da Amazônia e da posterior queima de biomassa, que representam mais de 50% do carbono emitido pelo país, a política pública federal e em todos os estados amazônicos, sem exceção, reforçou o aparato de fiscalização e de monitoramento.

Após uma festejada tendência de queda que culminou no igualmente festejado ano de 2012, único em que se desmatou uma área de florestas inferior a 5.000 km2 na Amazônia, os brasileiros chegaram em 2015, para assinar o Acordo de Paris, com estatura para propor o desmatamento zero.

Além do aumento do poder fiscalizatório, que nunca é demais lembrar consome um montante considerável do orçamento estatal todos os anos, foi possível também testar e implantar uma série de experiências exitosas de criação de riqueza que não depende do desmatamento.

Por isso na COP30, que vai acontecer em Belém do Pará em novembro próximo, o momento será oportuno para que nossa comitiva de diplomatas negociem com o mundo seu ideal de projetos para alcançar o desmatamento zero ao mesmo tempo em que eleva o PIB regional.

Será o momento de mostrar a todos, com muita convicção e senso de oportunidade, que a região está perto de superar o primitivo ciclo econômico baseado na pecuária extensiva, de baixa produtividade em que um boi ocupa quase dois hectares de pasto onde antes havia floresta, alcançando níveis sustentáveis de desenvolvimento baseado na exploração comercial da biodiversidade florestal.

Sem meias delongas e, por óbvio, garantindo níveis razoáveis de equidade e distribuição de riqueza, a economia de baixo carbono da Amazônia pode servir de referencia mundial ao demandar rodovias pavimentadas, hidrelétricas e toda a infraestrutura necessária, sempre radicalizando em uma grande prioridade: o desmatamento zero.

Alterar a visão sobre a forma de gerar riqueza na região depende da negação do modelo de pecuária extensiva que estagna a economia regional há mais de 50 anos com o comprometimento da quase totalidade do crédito rural.

Um momento oportuno, que não pode ser ofuscado pela distração da exploração de petróleo na margem equatorial, tema muito distante e indiferente para a penosa realidade do povo da Amazônia.

Alterar a visão sobre o desenvolvimento da Amazônia significa colocar a biodiversidade florestal no centro da política pública, esse é o único caminho.

 

*Engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).

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