Não se esqueçam, após 2012 o desmatamento na Amazônia apresenta tendência de alta
* Ecio Rodrigues
Desde que o desmatamento
da floresta amazônica ganhou a primeira página dos jornais internacionais,
ainda na década de 1970, que a pressão para zerar a substituição de áreas
cobertas com florestas por pastos se amplia ano após ano.
O momento histórico mais
importante para o alerta planetário em relação à tragédia representada pelo
desmatamento ocorreu quando, ao sediar a primeira Conferência da ONU sobre desenvolvimento
sustentável conhecida por Rio 92, os brasileiros mostraram ao mundo sua
insatisfação com o modelo de ocupação da Amazônia baseado na pecuária
extensiva.
De lá pra cá muita coisa
aconteceu, inclusive os dois recordes de desmatamento, em 1995 e 2004, bem como
o único ano em que a destruição da floresta foi inferior a 5.000 Km2,
em 2012, com posterior e persistente alta até 2022.
Por mais que os atuais
gestores da área ambiental do governo federal discordem, três constatações são
possíveis antecipar sobre a tendencia de elevação do desmatamento da Amazônia
para 2023:
a) Continuaremos sem saber a contribuição do desmatamento
legalizado na área total de floresta destruída;
b) Manteremos a crença nos
frágeis resultados da fiscalização; e,
c) Investiremos recursos escassos na solução fácil e romântica das
campanhas de sensibilização e conscientização ambiental do produtor de baixa
renda.
Desnecessário engrossar o
corolário de críticas à crise na política ambiental deixada pelo governo
federal, que terminou em 2022, por desconsiderar um aprendizado institucional
de mais de 30 anos no controle do desmatamento, por desmantelar o Conama, por
sabotar o Fundo Amazônia e, por colocar o Acordo de Paris sob suspeição.
Por óbvio, em um contexto
institucional caótico em que o Ministério do Meio Ambiente forneceu maior
atenção ao lixo urbano que ao desmatamento, o resultado não poderia ser
diferente, um prejuízo descomunal deixado aos brasileiros devido a destruição,
nos últimos quatro anos, de 45.586 km2 de biodiversidade florestal
na Amazônia.
Finalmente, nunca é demais
lembrar que a realidade objetiva, ou melhor, a tendência de elevação do
desmatamento anual da Amazônia, observada com leves flutuações a partir de
2012, não será alterada por força do ativismo bem-intencionado de alguns, sendo
mantida as três constatações descritas acima.
Com muita expectativa e
festejado pela imprensa o Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal, PPCDAm, relançado em abril de 2023, ainda não
avançou na solução das três constatações.
Pelo contrário, em uma
lista imensa de mais de 200 ações o PPCDAm não mexe no vespeiro, o crédito para
criação extensiva de gado na Amazônia, fornecido pelo Basa, vai aumentar em
2023.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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