TCU, desde 2003, defende que manejo da biodiversidade florestal é solução econômica e ecológica para Amazônia
* Ecio Rodrigues
O
Tribunal de Contas da União, TCU, é reconhecido por sua atuação na fiscalização
da aplicação de recursos financeiros públicos oriundos do orçamento da União
quando gerenciados por estados, municípios ou por organizações não
governamentais.
Na
condição de Entidade Fiscalizadora Superior do país, as auditorias do TCU costumam
deixar os gestores apreensivos, diante da possibilidade, quase sempre
concretizada, de se encontrar algum tipo de erro administrativo.
Contudo,
o que poucos sabem é que, além do monitoramento após o pagamento realizado pelo
gestor estatal, o TCU também atua de maneira preventiva, no sentido de orientar
sobre o investimento público mais adequado em relação às especificidades
sociais, econômicas e ecológicas locais.
São denominadas
de auditoria de natureza operacional, nas quais os auditores avaliam
intervenções públicas voltadas para solução de algum empecilho que comprometa o
desenvolvimento em uma região, estado ou município.
Nesse
tipo incomum de análise do orçamento federal, os Conselheiros do TCU aprovam relatórios
técnicos, elaborados por engenheiros e especialistas, que vão além da
administração do dinheiro, colocando foco em questões de conteúdo e não no procedimento
normativo.
O
importante no caso da auditoria operacional não é se o recurso público foi
aplicado segundo o que preconiza a temerosa Lei 8.666, das licitações, mas se o
investimento estatal incentivou a opção produtiva considerada correta em um
determinado contexto econômico e ecológico.
Um exemplo
didático são os programas sociais. A pergunta a ser respondida pela auditoria
operacional não se refere à ocorrência de beneficiários irregulares e sim se o “Auxílio
Brasil” é a melhor alternativa para reduzir a desigualdade no país.
Ainda
em 2003 o plenário do TCU, conforme processo TC 017.231/2003-8, aprovou relatório
do Ministro Humberto Souto sobre auditoria operacional que avaliou as “ações
governamentais desenvolvidas com o fim de proteger o meio ambiente na região
amazônica e prover o seu desenvolvimento mediante o emprego de técnicas de manejo florestal sustentável”.
Até
aquela data, a tecnologia de manejo florestal para produção sustentável de
madeira na Amazônia foi a única atividade produtiva, realizada em larga escala na
região, aprovada em uma detalhada inspeção técnica, com o grau de precisão empregado
pelos auditores do TCU.
E o mais
importante: a exploração comercial e técnica da biodiversidade florestal da
Amazônia passou no rigoroso teste do TCU.
Claro
que ao concluir que o manejo da biodiversidade florestal é atividade econômica
mais adequada à realidade social e ecológica da Amazônia, o TCU também
reconheceu a fragilidade do modelo de ocupação produtiva ancorado na pecuária extensiva
de gado, infelizmente, hegemônico na região.
Com elevados
custos ambientais e sociais a criação extensiva de boi, na pequena ou grande
propriedade, apesar de dominar o cenário do setor primário amazônico, não
resistiria aos critérios de sustentabilidade empregados pelos engenheiros do
TCU.
Por
outro lado, o manejo da biodiversidade florestal foi alçado à condição de opção
preferencial para conquista do desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Como
afirmou o TCU...
“...é alvissareiro constatar que o manejo
florestal, como forma de exploração, é exemplo de boa prática de proteção e promoção do desenvolvimento da região da
Amazônia Legal e efetivamente pode ser considerado sustentável. Por
outro lado, a efetiva implementação de tal sistema, assim como a continuidade
dos empreendimentos já em execução e o incremento da adoção da prática,
dependem de ações urgentes e harmônicas de diversos órgãos e entidades
governamentais...”.
Resumindo,
há quase 20 anos, para o Tribunal de Contas da União a biodiversidade florestal
é o principal antídoto para o desmatamento zero da Amazônia.
*Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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