Entre as muitas trapalhadas do governo, sabotar o Fundo Amazônia foi a mais estúpida
* Ecio Rodrigues
A lista de
trapalhadas do governo na área ambiental é extensa, e inclui desde anúncio de extinção
do MMA até demonização das entidades ambientalistas.
Entre
todas, contudo, a sabotagem do Fundo Amazônia – organismo financeiro que capta e
gerencia os recursos doados por países europeus com a finalidade de zerar o
desmatamento – é, de longe, a mais grave.
Por
sabotagem entenda-se o congelamento da substancial importância depositada no fundo,
dinheiro que permanece inacessível desde 2019, quando o governo, levianamente,
passou a hostilizar o apoio financeiro internacional à Amazônia – sem dúvida um
dos únicos ecossistemas do planeta a motivar tamanha mobilização.
O destaque
desse congelamento no triste ranking de desatinos se justifica tanto pelo simbolismo
que a Amazônia encarna perante o mundo quanto pela escassez real de recursos
públicos para aplicação no combate à destruição florestal.
Foi esse
simbolismo, aliás – traduzido no entendimento de que o ato de doar dinheiro
reforça o compromisso internacional em torno da conservação de nossa inestimável
floresta tropical –, que levou à criação do Programa Piloto para Proteção da
Amazônia, ou PPG7, pelo qual o G7, o grupo dos 7 países mais ricos do mundo, transferiu
ao Brasil (a fundo perdido) uma soma não inferior a 250 milhões de dólares.
Consistindo
provavelmente no mais expressivo programa de apoio não reembolsável até hoje
concretizado na região, o PPG7, durante mais de 10 anos, sobretudo entre 1994 e
2002, garantiu a execução da política ambiental e a estruturação de considerável
aparato fiscalizatório.
Ao sabotar
o fundo, que de certa maneira representa um legado do PPG7, o governo desprezou
não apenas o significado e a relevância da Amazônia para a humanidade como
também uma quantia que pode chegar à casa dos bilhões de dólares – e isso, como
sabido, num momento de profunda crise econômica e de contingenciamento do
orçamento público federal.
Mesmo
diante de uma longa lista, é difícil imaginar estupidez maior.
Lamentavelmente
o movimento ambientalista, em vez de se mobilizar para expor tal desatino e forçar
o governo a retroceder, prefere gritar contra a regularização fundiária – que
por sinal vem sendo levada a efeito desde o programa Terra Legal, de 2006. E a
despeito dessa paradoxal resistência, trata-se de iniciativa fundamental para
combater a devastação da floresta, pois só por meio da definição do domínio é
possível responsabilizar o respectivo dono pelo desmatamento perpetrado numa propriedade.
E a
patacoada do governo fica pior, na medida em que, indo bem mais longe do que a
costumeira e fracassada resposta baseada no uso do poder de polícia, os
recursos do fundo se destinam a oferecer uma alternativa de renda ao produtor,
mediante a exploração comercial da biodiversidade florestal.
Essa, sim,
a efetiva e decisiva solução para o desmatamento na Amazônia. Para todo
desmatamento, inclusive o legalizado, que é permitido pelo Código Florestal.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável (UnB).
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