Hidrelétrica é energia limpa em todo o mundo - e na Amazônia também!
* Ecio Rodrigues
Mesmo
depois do compromisso assumido pelo Brasil perante o Acordo de Paris – no
sentido de ampliar a participação da força das águas na matriz elétrica
nacional –, o emprego dessa fonte de energia renovável ainda é alvo de
acentuado preconceito por parte do movimento ambientalista.
Todas
as vezes que é dado o pontapé inicial para a instalação de uma das muitas
barragens previstas no planejamento energético do país – em especial quando os
rios amazônicos são afetados –, começa a gritaria dos ambientalistas e os
artifícios (inclusive judiciais) destinados a entravar o projeto.
Embora
se trate de um grupo restrito de pessoas (principalmente se contraposto à
totalidade da população brasileira), os ativistas fazem barulho, obtêm espaço na
mídia e não raro conseguem, por seus subterfúgios, atrasar a obra, aumentando
significativamente os respectivos custos.
De
outra banda, e a despeito de se escorar em razões ideológicas e pré-concebidas,
que prescindem de base científica (tratando-se literalmente de um preconceito), a objeção contra a energia
hídrica é respaldada por muitos doutores e professores universitários.
O palco
do mais recente embate travado pelos ambientalistas contra as hidrelétricas foi
a cidade de Machadinho d’Oeste, em Rondônia, onde teve lugar a audiência
pública para discussão dos estudos referentes ao licenciamento ambiental da Usina
Tabajara, a ser erigida na vila de mesmo nome, situada naquele município, e sobre
o leito do rio Machado.
Dispensa
gastar tinta e tempo com considerações acerca da realidade de Machadinho d’Oeste,
município que apresenta economia precária e IDH sofrível de 0,596. Ainda mais
grave é a situação da vila Tabajara, distante cerca de 70 km da sede municipal e
onde a inexistência de postos de emprego formal rouba aos jovens todas as expectativas
de algum futuro.
Não é
preciso mencionar que durante a edificação da represa no rio Machado, ambos,
vila e munícipio, receberão investimentos expressivos. E que no decorrer dos 5
anos de obra sobejarão empregos com carteira assinada para os habitantes de
Tabajara e, claro, de Machadinho.
Mas os
ganhos vêm mesmo com a entrada em operação das turbinas, em face da vultosa
soma em royalties (ou compensação financeira) que a empresa concessionária passa
a pagar anualmente à prefeitura, pela utilização dos recursos hídricos.
Para
dar uma ideia do peso desse aporte sobre o frágil orçamento municipal, num
único ano (2020) a cidade de Porto Velho recebeu mais de 65 milhões de reais da
Usina Santo Antônio, sediada no rio Madeira.
Em
suma, ainda que se apoiasse em razões minimamente plausíveis, o que não é o
caso, a insurgência contra um empreendimento de tamanha relevância – sobretudo no
contexto de municípios pobres, apartados da dinâmica econômica do estado e do
país – denota, para dizer o mínimo, arrogância e insensibilidade no que diz
respeito à realidade vivenciada pela população local.
Inúmeros
estudos demonstram que a construção e o funcionamento de uma hidrelétrica
trazem considerável melhoria de renda à população do entorno, eis que, afora os
benefícios promovidos pela iniciativa em si – tais como geração de empregos, reforço
na receita municipal e investimentos em aparatos de infraestrutura e de serviços
públicos –, há também o efeito catalisador para a atração de pessoas e de novos
investimentos, públicos e privados.
Todavia,
mesmo com todas as evidências em contrário, na equivocada visão dos
ambientalistas o resultado produzido é tão somente aumento da desigualdade
econômica e social – algo insano.
Impregnado
por forte viés ideológico, uma constante no discurso contrário ao
aproveitamento hidráulico dos rios, o alerta quanto aos supostos riscos envolvidos,
como exposto por ocasião do debate em torno das usinas de Belo Monte (Pará) e
do rio Madeira (Rondônia), remete a um extenso rol de impactos sociais e
ambientais.
Descontando
as muitas repetições de conteúdo, esses alegados impactos podem ser categorizados
em 3 critérios principais: superfície alagada; remoção de contingente
populacional; e comprometimento da reprodução da ictiofauna.
Primeiro,
é importante ressaltar que a otimização de tais parâmetros, sem dúvida
relevantes para a instalação de grandes barragens, foi encarada sob absoluta
prioridade pela engenharia civil brasileira – cuja excelência nesse campo, diga-se,
é reconhecida no mundo inteiro.
Acumulando
formidável experiência e tendo desenvolvido e incorporado, a partir da década
de 1970, uma série de inovações aos procedimentos empregados na construção de
vertedouros e lagos artificiais, as empresas nacionais de engenharia alcançaram
um padrão elevado de qualidade técnica e, mediante o suporte de muita pesquisa,
lograram obter alto grau de eficiência na relação área alagada/produtividade.
Não à toa, levam a tecnologia desenvolvida aqui no Brasil a outros países.
A capacidade
de geração de eletricidade por quantidade de água estocada duplicou nesse
período. Hoje, a produção de energia hídrica requer praticamente metade do volume
de água demandado há 20 anos.
Ademais,
com o aprimoramento da tecnologia conhecida como turbina a fio d’água, o vertedor
da usina pode ser posicionado praticamente na mesma cota da vazão máxima do
rio.
Enfim,
o avanço tecnológico possibilitou expressiva redução da extensão de terra
inundada – e, por conseguinte, do número de famílias atingidas.
Não dá
para desconsiderar, por outro lado, o ganho em qualidade de vida advindo da
transferência da população desabrigada para as novas cidades levantadas pelas
concessionárias, providas com habitações dignas, adequada infraestrutura e equipamentos
públicos.
Para quem
passa pela BR 364, em Rondônia, na altura da Usina de Jirau, é difícil não se
impressionar com a abissal diferença entre as vilas Mutum (que será inundada) e
Nova Mutum (para onde foram levados os moradores removidos).
Romantismos
à parte, como o lamento em torno da quebra de um suposto vínculo dos indivíduos
com a terra, o que se percebe de concreto é uma sensível melhora nas condições
de moradia e no acesso aos serviços públicos.
Quanto
ao impacto sobre a ictiofauna, já que o peixe para desovar precisa subir a represa,
essa questão deixou de ser um problema há pelo menos 30 anos, quando passaram a
ser implantados canais de subida ajustados às especificidades exigidas em cada
situação, e cujos custos integram a planilha da obra.
Dessa
forma, não há que falar em comprometimento da densidade da ictiofauna, sendo infundadas
as alegações de que a formação do lago prejudica a pesca. Por sinal, e
diferentemente do apregoado, os produtores ribeirinhos não tiram o seu sustento
da pesca de subsistência.
Concluindo,
diante das metas a serem cumpridas pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris,
bem como da crescente demanda imposta pela ampliação do SIN (Sistema
Interligado Nacional), com vistas ao atendimento de todo o território
brasileiro, onde houver queda d’água na Amazônia uma hidrelétrica será construída.
Não há
ciência por trás da rejeição às hidrelétricas. Eles, os que rejeitam, vão ter
que superar o preconceito.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre
em Política Florestal (UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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