Questão do Enem está errada e nega a ciência com relação ao agronegócio no Cerrado, à biotecnologia, à mecanização, aos defensivos e, claro, ao capitalismo
* Ecio Rodrigues
Pouco se
comentou na imprensa afinal os jornalistas, em sua grande maioria, são fiéis
defensores dos oprimidos e mais fracos mesmo quando nada disso vem ao caso, entretanto
colocar o agronegócio do lado oposto faz parte do estúpido jogo.
Por sinal,
é bastante difícil entender direito de onde surgiu a rejeição, puramente
ideológica e bastante insana, de um público que majoritariamente possui nível
superior e acesso à informação, em relação ao reconhecido agronegócio nacional.
Parece, por
assim dizer, uma ideia insuperável e que apesar de contrariar preceitos
científicos sólidos continua a impregnar as universidades, sobretudo as
públicas e mais ainda as federais, aquelas sob a tutela do Ministério da
Educação.
Enquanto
esse tipo de afirmação, deveras ultrapassada e erradíssima, circula entre os acadêmicos
que devem estar se aposentando vá lá, o perigo surge quando esse tipo de prática
universitária nefasta chega aos mais novos, ao Enem por exemplo.
Parece loucura
que o último Enem, realizado para selecionar os novos ingressantes nas
universidades públicas em 2023, em uma das 90 questões do primeiro dia, o claro
engajamento ao ideário de partidos políticos tenha sido expresso assim:
No Cerrado, o conhecimento local está sendo cada
vez mais subordinado à lógica do agronegócio. De um lado, o capital impõe os conhecimentos
biotecnológicos, como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de
novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres
à lógica do mercado. Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens
comuns) tornam-se propriedade privada. Além do mais, há outros fatores
negativos, como a mecanização pesada, a “pragatização” dos seres humanos e não
humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a
violência contra a pessoa...
Nada mais
absurdo.
Desse conjunto
de afirmações, sem o menor fundamento e que foi superado por estudos científicos
robustos realizados nos últimos 50 anos, três merecem destaque.
A
biotecnologia se refere à possibilidade de se extrair princípios ativos, em sua
maior proporção das plantas, que são amplamente usados na medicina e
alimentação responsáveis, dentre outros pontos importantes, por tornarem
remédios e comida mais baratas e acessíveis aos mais necessitados.
A
mecanização, não importando se leve ou pesada, possibilitou ao produtor rural,
ao grande, mas ao pequeno também, trabalhar a terra com maior rapidez e menor
esforço físico decorrente do uso exaustivo da enxada.
Os
defensivos agrícolas, associados ao melhoramento genético, permitiram o ganho
de produtividade que o agronegócio precisava para afastar os riscos da tragédia
malthusiana em relação à inanição da humanidade.
Claro que
ao fim e ao cabo o ativismo de partido político se resume a questionar o
triunfo da propriedade privada e do capitalismo, mesmo sendo o sistema
econômico adotado por 195 países associados à ONU.
Por isso
mesmo, de nada adianta argumentar com amarras ideológicas, posto que são
inexplicáveis e resistem à existência de quem as cultivam.
Em síntese
não se trata da defesa do pequeno produtor e da condenação do agronegócio, é
somente estupidez mesmo.
Faça um
teste, troque a palavra agronegócio por hidrelétrica e Cerrado por Amazônia.
Será que o Enem 2024 tem uma questão?
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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