Terceiro artigo da série RETROSPECTIVA SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA EM 2022 (publicado originalmente em 08/05/2022).
Para
iniciar o novo ano (2023), e como
forma de apresentar uma mostra da realidade vivenciada na Amazônia durante os
12 meses do ano que terminou, foram selecionados e serão novamente postados,
neste espaço, textos considerados representativos, entre os mais de 50 artigos
publicados em 2022.
O terceiro artigo da seleção, publicado
originalmente em 08/05/2022 com o sugestivo título “Água e madeira no futuro da energia elétrica na Amazônia”, chamou
a atenção para as duas fontes de geração de energia elétrica que representam as
maiores vantagens comparativas da Amazônia frente a outras regiões. Madeira e
água são fartas na região. Afinal o mundo chegou em 2022 num momento de
transição energética, em direção à substituição do petróleo como fonte
hegemônica de energia por fontes limpas: água, sol, vento e biomassa. Nessa
nova economia, dita de baixo carbono – e graças à acertada decisão de priorizar,
a partir da década de 1970, a construção de usinas hidrelétricas –, o Brasil
hoje é referência no mundo, integrando o reduzidíssimo grupo de países que
baseiam quase 50% da energia que produzem em fontes renováveis. E a Amazônia,
por sua vez, ocupa lugar de destaque. Dispondo de extensa rede hidrográfica e
abundância de biomassa florestal, a Amazônia pode gerar – e vender ao SIN
(Sistema Interligado Nacional) – a energia que ajudará a movimentar o país. O
momento é mais que oportuno, mas antes, é preciso superar o nocivo ciclo da
criação extensiva de boi.
A todos
boa releitura.
Água e madeira no futuro da energia elétrica na
Amazônia
* Ecio
Rodrigues
Não se deve
confundir matriz energética com matriz elétrica.
A primeira se
refere à oferta total de energia – da lenha queimada em fornos ao combustível
consumido para o transporte de cargas e pessoas. Quanto à segunda, diz respeito
especificamente à geração de energia elétrica.
Em ambos os casos,
contudo, o Brasil está muito bem na foto.
Graças às águas
abundantes nos rios brasileiros, em especial nos leitos amazônicos, quase 50%
da matriz energética do país é gerada por fontes renováveis. Trata-se de uma
marca alcançada por poucos – um grupo muito seleto de nações que ostenta os
menores níveis de dependência em relação ao petróleo, e que pode se vangloriar
por isso.
Enquanto, em 2021,
a participação das fontes renováveis na produção mundial de energia foi de
apenas 13,9%, no Brasil, diante da oferta proveniente das hidrelétricas e da
contribuição trazida pelo etanol e pela biomassa florestal, essa participação
chegou a 48,6%.
Ressalve-se que
esses dados – fornecidos pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), estatal
vinculada ao Ministério das Minas e Energia – não incluem as taxas de geração
por fonte nuclear, que são limitadas e tendem a se restringir ainda mais, já
que Alemanha e outros países da Europa e da Ásia planejam desligar suas
respectivas usinas.
De outra banda, e
ainda segundo a EPE, nada menos que 65,2% da eletricidade aqui produzida se
origina da força das águas. Outros 9,1%, por seu turno, provêm da queima de
biomassa; 8,8% resultam da ação dos ventos e 1,7%, do aproveitamento da luz
solar.
No total – e por
conta, sobretudo, das 158 hidrelétricas em operação no país –, as fontes renováveis
respondem por mais de 80% da matriz elétrica brasileira, proporção muito
superior aos 30% apurados em face da matriz mundial.
Por óbvio, e
considerando ademais os compromissos assumidos pelo Brasil perante o Acordo de
Paris, a previsão é que essa proporção se amplie significativamente até 2030.
Afinal, em vista da
transição que está em curso na indústria automobilística mundial, do motor a
combustão para o elétrico (saiba mais aqui: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3758), é preciso
aumentar a participação da matriz elétrica na matriz energética nacional, de
modo a possibilitar a assimilação da demanda trazida pela chegada dos novos
veículos movidos a eletricidade – primeiro os de passeio, depois os utilitários
e, por fim, os caminhões de carga pesada.
Já existem, no
Brasil, como dito, mais de 150 hidrelétricas em funcionamento (contando apenas
as de médio e grande porte), produzindo energia limpa e posicionando o país
como referência mundial no assunto. Todavia, parte expressiva do movimento
ambientalista ainda se opõe à geração hidráulica, notadamente quando o rio
represado se situa na Amazônia.
A absurda gritaria
em torno da construção das usinas de Belo Monte, no Pará, e de Jirau e Santo
Antônio, em Rondônia – o que resultou na majoração dos respectivos custos,
causando prejuízos irreparáveis – dá uma medida das dificuldades enfrentadas
todas as vezes que uma barragem começa a ser levantada (saiba mais aqui: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=2415).
A despeito de
contar com o inexplicável apoio de meia dúzia de acadêmicos, a resistência dos
ativistas, longe de se justificar, contraria a ciência – e o bom senso!
Ocorre que, além de
serem ambientalmente adequadas e de se ajustarem à rede fluvial da Amazônia, as
hidrelétricas, juntamente com as caldeiras alimentadas por biomassa florestal
(madeira), se traduzem em opção econômica prioritária para a região (saiba mais
aqui: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=2313).
A geração de
energia elétrica renovável, que representa um ativo excepcional, pode ser a
saída para tirar a região da persistente estagnação econômica decorrente da
criação extensiva de boi.
Porém, e ao
contrário do que muita gente pensa, o que existe em fartura na Amazônia não é o
vento e a luz do sol, mas sim, água e madeira.
*Engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política
Florestal (UFPR), e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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