Segundo artigo da série RETROSPECTIVA SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA EM 2022 (publicado originalmente em 26/06/2022).
Para
iniciar o novo ano (2023), e como
forma de apresentar uma mostra da realidade vivenciada na Amazônia durante os
12 meses do ano que terminou, foram selecionados e serão novamente postados,
neste espaço, textos considerados representativos, entre os mais de 50 artigos
publicados em 2022.
O segundo artigo da seleção, foi publicado originalmente em
26/06/2022 com o sugestivo título “Política Florestal de 2001 garantiu
produção de madeira manejada no Acre”, para comentar os efeitos positivos
da política estadual de florestas implantada no início do século. Ao priorizar
a produção tecnificada e permanente de madeira a política comprovou a
superioridade econômica da biodiversidade florestal frente a criação extensiva
de boi. O primeiro passo decisivo foi derrubar a ideia de ilegalidade em
relação à exploração madeireira – como se todo caminhão toreiro deixasse um
rastro de destruição pelo caminho. No Acre, porém (graças, sobretudo, à
Política Florestal instituída em 2001), essa realidade ficou no século passado.
Assim, não existe hoje, no estado, produção ilegal de madeira com significado
estatístico. Por outro lado, saem da floresta 3 tipos de madeira em tora, todos
regularizados, mas com preços diferenciados, de acordo com sua respectiva
origem: a madeira do desmatamento, a mais desvalorizada, já que provém das
áreas desmatadas para instalação de pasto/roçado e se caracteriza por elevadíssimo
impacto ambiental; a madeira manejada, mais valorizada, produzida mediante a
aplicação da tecnologia do manejo florestal, sob baixo impacto ambiental; por
fim, a mais valiosa, a madeira certificada, que é manejada e cumpre uma série
de exigências para obtenção do selo verde. A política de 2001 foi exitosa ao
fomentar o manejo e conter a oferta irregular de madeira. É chegada a hora de
uma segunda política florestal, a ser direcionada para zerar o desmatamento
legalizado, tirando do mercado a madeira não manejada.
A todos boa releitura.
Política Florestal de 2001 garantiu produção de
madeira manejada no Acre
* Ecio
Rodrigues
Em dezembro de 2021, a Política Florestal do
Acre, instituída pela Lei Estadual 1.426/2001, completou 20 anos de vigência.
A despeito de nunca ter sido objeto de
prioridade por parte dos gestores públicos e muito menos de ter recebido alguma
atenção da imprensa, essa legislação representou um verdadeiro marco, um
divisor de águas no que respeita à economia florestal do estado.
Estudos realizados pelos engenheiros
florestais da Ufac no decorrer do projeto “Política Florestal do Acre 20 anos
depois” demonstram os efeitos dessa diretriz de política pública para fomentar
a contribuição da biodiversidade florestal na geração de riqueza em âmbito
estadual.
A análise abrangeu o período de 1990 a 2020,
tendo-se embasado, pelo prisma da economia, nas informações do IBGE acerca da
realidade produtiva do estado; e pelo lado ambiental, nos índices anuais de
desmatamento levantados pelo Inpe.
Os resultados não deixam dúvida: sob ambos os
aspectos, nota-se significativa melhora nas estatísticas a partir de 2001 –
portanto, depois que a política foi implementada.
Os impactos podem ser observados tanto no
sentido do aumento da participação de produtos da biodiversidade florestal na
composição do PIB estadual quanto na redução, mesmo que temporária, do
desmatamento. (Para ler mais, acesse: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5292&artigos_ano=2022).
Os números relacionados à produção madeireira
são bastante elucidativos, dando uma boa medida desses impactos.
Mas, primeiro, cabe um pequeno
esclarecimento. É que o mercado trabalha com 3 tipos de madeira em tora, todos
legalizados, todavia, diferenciados entre si – em termos de classificação e de
preço, de acordo com sua procedência.
A mais desvalorizada é a madeira do
desmatamento. Trata-se das toras que saem das áreas desmatadas (via processo de
licenciamento ambiental) para o cultivo de pastos/roçados, e que resultam do
corte raso da floresta, sendo retiradas e comercializadas pelo produtor antes
da realização da queimada.
Por sua vez, a madeira manejada, muito mais
valorizada, é a que provém das áreas exploradas mediante estrita observância
das técnicas de manejo florestal e sob a orientação de engenheiros florestais.
E ainda mais valorizada é a madeira
certificada. Em suma, é a mesma madeira fornecida pelas florestas manejadas,
mas que foi submetida a um rigoroso procedimento de verificação de origem, para
fins de obtenção do selo verde outorgado pelo FSC (Conselho Internacional de
Manejo Florestal). (Para ler mais, acesse http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3958).
Nos 10 anos anteriores à vigência da política
(entre 1990 e 2000), a produção de madeira em tora permaneceu na casa dos
25.000 m³ anuais, inteirando 236.000 m³ no respectivo período.
Nos 10 anos seguintes (entre 2001 e 2009),
saltou para 35.000 m³/ano, o que totaliza mais de 353.000 m³ em todo o período.
De outra banda – e contrariando o senso
comum, que associa a disponibilidade de madeira ao aumento da destruição
florestal –, pode-se dizer que esse crescimento ocorreu de forma concomitante
com a redução das taxas anuais de desmatamento.
Mesmo quando a análise é efetuada em nível
mais localizado, no plano das regionais administrativas, constata-se que a
oferta se manteve estável e indiferente à dinâmica do desmatamento.
Diante da proximidade das eleições e da
perceptível demanda por uma nova política florestal, dita de segunda geração, o
momento é oportuno para iniciar esse debate.
Duas conclusões dos pesquisadores precisam
ser bem compreendidas, de modo a subsidiarem a discussão.
Em primeiro lugar, a madeira manejada –
produzida em conformidade com os métodos e parâmetros preconizados pela
engenharia florestal – representa mais de 90% da cadeia produtiva.
Significa afirmar que não existe mais, no
Acre, oferta de madeira ilegal – pelo menos em escala estatisticamente
relevante.
Mas é necessário tirar de vez do mercado a
madeira não manejada e, para tanto, é preciso chegar na origem, ou seja, é
preciso zerar o desmatamento legalizado. A esse propósito a segunda política
deverá ser direcionada.
Em segundo lugar, a produção madeireira –
mesmo levando em conta a capacidade instalada de uma indústria consolidada, que
opera num contexto bem diverso do vigente nas décadas de 1980 e 1990,
caracterizado pelas chamadas serrarias de ramal – responde muito positivamente
ao menor apoio oferecido pela política pública.
Para a escolha do candidato a governador,
vale a pena procurar quem se disponha a incluir em seu plano de governo uma
nova política para a madeira e demais produtos da biodiversidade florestal.
*Engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política
Florestal (UFPR), e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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