Desmatamento em 2021 prejudica sustentabilidade da Amazônia
* Ecio Rodrigues
Enquanto
as taxas anuais de destruição florestal não forem contidas e levadas aos níveis
de 2012, o ano mágico, único em que foi desmatada área inferior a 5.000 Km2,
não haverá perspectiva para a Amazônia alcançar o desenvolvimento sustentável.
Relacionar
a sustentabilidade do progresso (ou do desenvolvimento) ao desmatamento deveria
ser uma regra entre os agentes financeiros – ou seja, os bancos e fundos de
investimentos que atuam na região. Mas não é isso que acontece.
Basta
uma rápida olhada nos sites do Basa e da Suframa para perceber que a palavra
sustentabilidade – só a palavra mesmo! – vai sendo repetida nas explanações a
respeito das carteiras de crédito, seja para o financiamento de pavimentação de
estradas, de construção de indústrias ou de ampliação da Zona Franca de Manaus.
Contudo,
e por óbvio, não há possibilidade de conquistar o desenvolvimento sustentável mediante
a instalação de infraestrutura (embora infraestrutura seja imprescindível), uma
vez que, diante da realidade objetiva presente na região, toda e qualquer nova
infraestrutura surgida vai beneficiar a cadeia produtiva que já está
consolidada.
Significa
dizer que todo quilômetro a mais de estrada, de rede elétrica, de cabo de
internet etc. vai servir ao único propósito de ampliar a área ocupada pela pecuária
extensiva na região, substituindo a biodiversidade florestal por pastos.
São
fartos os trabalhos científicos que comprovam o efeito nocivo do desmatamento
sobre os três pilares da sustentabilidade (econômico, social e ecológico),
efeito esse que levou e continuará levando a região ao ciclo intolerável que
associa estagnação econômica e degradação ambiental.
Para
quem não acompanha o escasso noticiário nacional em torno da maior floresta tropical
do mundo, vale relembrar.
De 1º
de agosto de 2020 a 31 de julho de 2021, 13.235 km2 de biodiversidade
florestal foram destruídos na Amazônia, uma elevação de 22% em relação ao índice
computado entre 1/8/2019 e 31/7/2020 (para saber mais, acessar http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5174&artigos_ano=2021).
Trata-se
de uma cifra assustadora, não apenas pelo aumento em si, mas diante do cenário em
que esse aumento se dá.
A
partir de 2012 começou a se delinear uma tendência de alta no desmatamento que
não foi contida pelo investimento público permanente em fiscalização (sempre
onerosa e pouco eficiente).
Ocorre
que, além de confirmar essa tendência de alta, os números apurados em 2021
demonstram também que o incremento foi maior em estados que geralmente exibem baixos
índices de destruição florestal.
É o
caso de Amapá, Amazonas, Roraima e Acre. Mesmo apresentando economia fragilizada
– na verdade, em frangalhos, devido ao contexto de pandemia/quarentena – todos
eles desmataram acima da média de 22% totalizada para a região.
Com
efeito, no Amapá o aumento foi de 62%; no Amazonas, 55%; Em Roraima, 30%; e no Acre,
23%.
Algo
de muito insólito acontece, pois a ocupação produtiva levada a efeito nesses
estados não se baseia em grandes empreendimentos da indústria do agronegócio,
como acontece no Pará e no Mato Grosso. Por outro lado, em nenhum deles a
dinâmica econômica justifica tão alto investimento no desmatamento.
Não dá
para considerar, ademais, como querem crer setores do movimento ambientalista,
que o aumento decorre exclusivamente do discurso político a favor do
desmatamento, muito praticado pelo governo federal e pelo governo do Acre, por
exemplo.
Enfim,
a compreensão da dinâmica atual do desmatamento vai exigir muitos estudos, mas
decerto essa é a chave para conter a disparada da destruição florestal e, dessa
forma, honrar compromissos assumidos perante o Acordo de Paris.
A boa
notícia é que, durante a COP 26, encerrada em novembro, além de importantes
acordos, celebrados no intuito de obstar a destruição florestal no mundo, foi
aprovada a regulamentação do mercado de carbono no âmbito da ONU.
Em
2022, o pacto pelo desmatamento zero e o mercado de carbono devem trazer
expressivos ganhos para a sustentabilidade na Amazônia.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre
em Política Florestal (UFPR), e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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