BNDES, projeto SAF & Açude do Acre e reflorestamento na Amazônia
* Ecio Rodrigues
No rastro de medidas a serem anunciadas para
que o Brasil retome o protagonismo para a política ambiental internacional, o
BNDES anunciou o lançamento de edital com montante recorde de 450 milhões de
reais para investir em projetos de reflorestamento na Amazônia.
Além de louvável, a iniciativa merece
aplausos pela objetividade ao priorizar a tecnologia mais barata, rápida e com
elevado impacto social para realidade amazônica quando o objetivo é retirar
carbono da atmosfera e reduzir o aquecimento do planeta: plantio de árvores.
Mas aqui cabe um adendo, não se trata de uma
proposta nova. Ou seja, em vários locais da Amazônia e desde a década de 1990
do século passado, várias experiências foram conduzidas com o propósito de
reduzir o desmatamento devido à produção agrícola da região.
Foi o caso por exemplo do reflorestamento com
a tecnologia usada no Projeto SAF & AÇUDE, considerado um sucesso para a
realidade rural do Acre. Foi implantado em 1995 pela organização não
governamental Centro dos Trabalhadores da Amazônia-CTA, que, infelizmente,
encerrou suas atividades nos idos de 2010.
Naquela época o Ministério do Meio Ambiente
tinha uma forte e jamais recuperada atuação no incentivo à execução de modelos
alternativos de produção agrícola na Amazônia, sempre na expectativa de
minimizar os efeitos e até zerar o desmatamento legalizado.
Entretanto, a chave para o resultado positivo
do investimento do BNDES reside em entender as razões para que, contrariando o
senso técnico comum, o pequeno produtor, que deve ser o principal beneficiário
do plantio das árvores consorciadas com o milho, não quer dedicar seu tempo ao
SAF.
Os relatórios do projeto SAF & AÇUDE
mostram que quando os técnicos que atuavam no CTA chegavam às propriedades para
realizar os plantios consorciados os produtores, sem exceção, ficavam muito
animados com a ideia do açude no mesmo grau que decepcionados com a proposta do
SAF.
De certo modo, com o decorrer da implantação do
Projeto SAF & AÇUDE em 250 propriedades localizadas no vale do rio Acre, o
plantio das mais de 25 espécies de árvores consorciadas no SAF se impôs como
condição para os produtores ganharem o tão almejado açude.
E mais, o açude, medindo em média um hectare
de lâmina de água, teria que atender a piscicultura de um conjunto de cinco
famílias ou unidades produtivas diferentes.
Todos os produtores aceitaram satisfeitos as
condições, visto que a construção do açude compensaria o sacrifício de lidar
com a piscicultura coletiva e com o SAF individual (veja mais aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=1663).
Por sinal, com a introdução de alevinos, com
destaque para tambaqui e curimatã nos açudes, a piscicultura deu seus primeiros
passos e hoje está consolidada na realidade rural do Acre, ainda que dissociada
do SAF.
Vencer a resistência do produtor com o SAF
não é tarefa fácil por uma razão compreensível. Há lapso temporal considerável
entre o período em que o produtor dispende seu trabalho até que as árvores se
estabeleçam a ponto de gerar alguma renda.
O SAF & AÇUDE priorizou o produtor
localizado em projetos de assentamentos da reforma agrária gerenciados pelo
Incra, que emprega tecnologia agrícola rudimentar e desmata sua propriedade no
limite permitido pelo Código Florestal.
Para esse produtor, que vive entre a vontade
de ampliar a produção e o medo de entrar na ilegalidade ao desmatar a porção de
Reserva Legal de sua propriedade, talvez interessasse modernizar por meio da
diversificação, a sua produção agrícola com a tecnologia de reflorestamento do
SAF.
A alternativa do SAF para esse tipo especial
e peculiar de produtor do assentamento rural na Amazônia, se tornará atrativa
na medida em que possibilite reduzir os custos de produção e propicie elevação
da renda com a venda dos produtos colhidos no SAF após, no mínimo, os três anos
necessários ao amadurecimento do plantio (veja mais aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=1707).
Ocorre que o SAF consorcia espécies vegetais
com diferentes ciclos de vida em um mesmo hectare de plantio. Por isso sua
cronologia produtiva pode permitir ao produtor auferir renda, com a área antes
ociosa que foi abandonada no modelo de pousio, de maneira mais prolongada e
permanente.
Do ponto de vista ecológico, o SAF, com
espécies agrícolas e florestais cultivadas juntas, aproxima a área que foi
desmatada daquele ecossistema florestal original.
Parabenizando o BNDES, torço para que os
gestores do edital de reflorestamento reduzam o risco de fracasso e visitem o
Projeto SAF & AÇUDE no Acre!
* Engenheiro
Florestal (UFRuRJ), Mestre em Política Florestal (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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