Política Florestal do Acre, 20 anos depois
* Ecio Rodrigues
Em 2001, numa iniciativa que merece
elogios, o Acre se tornou o primeiro estado amazônico a instituir sua própria política
florestal.
Entre outros, dois propósitos primordiais
orientavam a política florestal acreana, introduzida pela Lei Estadual
1.426/2001. Primeiro, a contenção da tendência de alta para posterior redução
dos índices de destruição florestal; segundo, mas não menos importante, a ampliação
da participação da biodiversidade florestal na geração de riqueza e, por
conseguinte, na composição do PIB estadual.
Depois de 20 anos de execução, e tendo
em conta esses ambiciosos objetivos, surge de pronto a pergunta: foram
alcançados?
Uma equipe de pesquisadores conduzida pelo
professor Luiz Augusto Mesquita de Azevedo, da Ufac (Universidade Federal do
Acre), e que contou com a participação ativa da Unesp de Ilha Solteira, na
pessoa do professor Jairo Salim Pinheiro de Lima, nos últimos 2 anos, empreendeu
uma análise minuciosa – mais do que
necessária, diga-se – sobre o período de vigência da política (2001 a 2020).
Os resultados dessa investigação, que
originou 5 monografias aprovadas no curso de Engenharia Florestal da Ufac, além
de 4 artigos científicos publicados, permitem concluir que a Política Florestal
do Acre foi uma experiência exitosa.
As medições levadas a efeito em
território estadual demonstram que entre 1991 e 2000 a média anual do
desmatamento foi bem superior à contabilizada nas duas décadas seguintes.
Ainda que a retração do desmatamento tenha
sido mais intensa logo após 2001, enfraquecendo a partir de 2011, a redução da
destruição florestal em relação aos 10 anos prévios à promulgação da norma é uma
verdade estatística. (Para saber mais sobre desmatamento no Acre acessar: Associação
Andiroba).
Parece certo que um conjunto de
variáveis pode influir na dinâmica do desmatamento. Sem embargo, todos hão de
concordar que a reversão da tendência de alta que vinha se configurando na
década anterior e a contração do desmatamento a partir da entrada em vigor da
política florestal não podem ser mera coincidência.
Resumindo, é inegável que o declínio do
desmatamento foi mais forte na primeira década de implantação da política (2001
a 2010) e que, depois (2010 a 2020), a destruição florestal recuperou fôlego.
Contudo, é inegável também que durante
todo o prazo de vigência da política, que vai de 2001 a 2020, os níveis de
desmatamento são bem inferiores aos aferidos nos anos precedentes.
Mesmo raciocínio vale para a produção
oriunda da biodiversidade florestal. Dos 4 produtos examinados (borracha, açaí,
castanha e madeira em tora), 3 deles tiveram ampliadas sua oferta e participação
no PIB estadual desde que a política florestal foi implementada.
A exceção, como era de se esperar, ficou
por conta da borracha, que é comercializada mediante a conversão do produto em GEB
(granulado escuro brasileiro), ou “pranchão”, no dizer dos extrativistas.
Parece não haver futuro econômico para
a borracha originária dos seringais nativos do Acre e da Amazônia. Mesmo com
todo o suporte fornecido pela política pública – eis que a extração de látex foi
beneficiada por generoso subsídio fiscal durante mais de 10 anos –, os seringais
de cultivo em são Paulo dominam o mercado nacional de pneus desde 1993.
Por sua vez, a produção de açaí – seja a
procedente de Feijó (a mais reconhecida pelos acreanos) ou de municípios do
vale do rio Acre – apresentou crescimento anual ininterrupto nas duas décadas em
que a política vigorou, pelo que se pode concluir que recebeu impacto deveras
positivo.
Comportamento semelhante foi demonstrado
pela castanha, que obteve ganhos de produção elevados no mesmo intervalo de
tempo, bem superiores aos apurados no período pré-política florestal (até o ano
2000).
Contrariando a máxima de que a produção
de madeira em tora depende da derrubada de florestas, nos últimos 20 anos a
oferta de madeira se mante estável, com leve flutuação para cima, a despeito da
redução havida no desmatamento.
Por sinal, os pesquisadores ficaram
intrigados com o comportamento da oferta de madeira, que, de maneira
inexplicável, alcançou a cifra recorde de 1.064.195 m3 em 2011, mas
decresceu a partir de então, estabilizando-se num patamar de produção bem
inferior, na casa dos 300.000 m3.
Todos esses auspiciosos indicadores não
deixam dúvida quanto à existência de demanda social, econômica e ambiental para
o estabelecimento de uma nova política florestal no estado.
Diante da celebração do Acordo de Paris
e do impulso conferido pela ONU ao mercado de carbono, a nova política deverá
priorizar a oferta de serviços ambientais.
No serviço prestado pela biodiversidade
florestal, ao manter o estoque de carbono e contribuir para o abastecimento de
água, pode estar a superação do nocivo ciclo econômico da pecuária extensiva.
Mas o tempo urge, uma política
florestal de segunda geração precisa ser discutida no Acre, hoje.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ),
mestre em Política Florestal (UFPR), e doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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