Quarto e último artigo da série RETROSPECTIVA SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA EM 2021 (publicado originalmente em 14/11/2021).
Para iniciar
o novo ano, e como forma de apresentar uma mostra da realidade vivenciada na
Amazônia durantes os 12 meses do ano que terminou, foram selecionados e serão
novamente postados, neste espaço, 4 textos considerados representativos, entre
os mais de 50 artigos publicados em 2021. Abaixo o quarto e ultimo artigo.
COP 26 trouxe grandes avanços para a descarbonização do planeta
* Ecio
Rodrigues
Muitos
foram às ruas em Glasgow, Escócia, para reivindicar dos gestores e autoridades
que participaram da COP 26, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que se
encerrou em 12/11/2021, metas de curto prazo mais rigorosas para contenção do
aquecimento global.
O
tom cético em relação ao que vem sendo negociado há 30 anos, desde a Rio 92,
ocasião em que foi assinada a Convenção do Clima, tem razão de ser quando se
confronta o impacto das catástrofes ambientais como secas e tsunamis com a
tímida resposta dos países para duas prioridades: substituir o petróleo na
produção de energia e zerar o desmatamento das florestas no mundo
(especialmente, claro, na Amazônia).
Ninguém
é ingênuo, por suposto, a ponto de crer que a superação desses desafios seria
empreitada simples. Afinal, toda a estrutura existente no planeta, e que
possibilitou a universalização do acesso à energia elétrica, fator crucial para
a elevação do IDH de um país ou localidade, foi organizada com base no uso
imoderado de carbono.
Para
descarbonizar a economia é preciso uma extraordinária concentração de esforços
– como talvez só se tenha visto no caso da pandemia de covid-19, quando a
humanidade se mobilizou para encontrar uma vacina –, no sentido de viabilizar o
uso de fontes limpas na geração de energia. Mas também é preciso, por outro
lado, predisposição para correr risco de apagões.
O
problema é que, de forma geral, a resposta dos países tem se mostrado pouco
satisfatória, tanto com referência aos recursos financeiros necessários para
substituir o petróleo e o carvão mineral da matriz energética mundial quanto no
que respeita ao acesso dos produtores da Amazônia ao mercado de carbono (de
maneira que venham a ser remunerados pela conservação da biodiversidade
florestal).
Pode-se
dizer – sem ingenuidade, mas com otimismo – que alguns passos foram dados na
COP 26 para assegurar aporte financeiro ao processo de descarbonização. Dois
deles merecem destaque.
O
primeiro se refere à aliança formada por mais de 400 bancos e fundos de
investimentos do mundo inteiro, no intuito de atender aos termos pactuados no
Acordo de Paris.
Trata-se
da Aliança Financeira de Glasgow para Zero Emissões Líquidas (ou GFANZ, na
sigla em inglês), que vai promover e monitorar o investimento em
empreendimentos que envolvem plantios de árvores ou conservação de florestas
nativas, diferenciando-os de projetos pseudossustentáveis – ou seja, aqueles
que se disfarçam sob termos como “verde” e “ecológico” para obter recursos, mas
que na verdade estão na contramão da sustentabilidade planetária.
No
decorrer das negociações, a GFANZ anunciou que vai destinar o vultoso orçamento
de US$ 130 trilhões ao financiamento, nos próximos 30 anos, de projetos
voltados para a descarbonização, com foco em energia elétrica e desmatamento
zero.
O
segundo passo, por sua vez, remete à sistematização de regras de operação para
o sistema previsto no protocolo de Quioto, que permite a negociação de créditos
de carbono entre as indústrias que jogam fumaça na atmosfera e os produtores
que dispõem de terras cobertas por florestas.
Não
há dúvida de que o funcionamento de um mercado mundial de carbono organizado e
regulamentado pela ONU contribuirá de maneira significativa para o fim do
desmatamento na Amazônia.
E
isso se justifica por uma simples razão.
Quando
o preço do carbono estocado for contabilizado, o valor econômico de cada
hectare de biodiversidade florestal na Amazônia vai superar o valor do hectare
desmatado para instalação de pasto.
*Professor Associado da Universidade Federal do
Acre, engenheiro florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR), e
doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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