Retrospectiva Sustentabilidade da Amazônia na última década: 2010 a 2019
Para comemorar a nova década que está iniciando em 2020, e como forma de
apresentar uma mostra da realidade vivenciada entre 2010 e 2019 – no que
respeita à sustentabilidade da Amazônia –, foram selecionados e serão novamente
postados, neste blog, artigos considerados representativos, entre os 48
publicados semanalmente, todos os anos, no site da Oscip Andiroba (http://www.andiroba.org.br/).
Dessa forma, um total de 10 artigos, um para cada ano da década passada,
serão republicados, durante 10 semanas, a partir de 05 de janeiro.
Segue o décimo e último artigo da série, publicado originalmente em 24/11/2019:
Maior
tragédia ambiental do país, desmatamento dispara na Amazônia
* Ecio Rodrigues
Desnecessário mencionar que a
redução do desmatamento na Amazônia, longe de reclamar ações baseadas em
fundamentalismo ideológico, exige empenho para compreender as motivações que
levam o produtor rural a investir nessa nefasta prática todos os anos.
Ao constatar
um aumento de 29,50% na taxa de desmatamento da Amazônia, no período que vai de
01/08/2018 a 31/07/2019, o reconhecido Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa
Espacial) confirmou a acentuada tendência de elevação prevista pelos
cientistas.
Sem
temer as já habituais represálias por parte do próprio governo que integra, o
Inpe deixou claro que a destruição da floresta amazônica em 2019 representa
recorde em valores absolutos para os últimos 10 anos.
Desde
2008 não acontecia desmatamento superior a 8.000 Km2. À época, todavia,
observava-se uma tendência animadora de redução, que vinha desde 2005, tendo
possibilitado, inclusive, o festejado patamar de menos de 5.000
Km2 desmatados em 2012.
A
alegria durou pouco: o feito daquele ano jamais se repetiria e, pelo contrário,
a destruição da floresta amazônica continuou a aumentar quase que
continuamente, até disparar agora, em 2019.
Um
total de 9.762 Km2 de florestas foi suprimido pelo corte raso, do tipo que
não permite regeneração natural durante pelo menos 80 anos – aproximando a
região do “ponto de não retorno” para a condição anterior de floresta tropical.
Para
explicar melhor. O ponto de não retorno será alcançado quando a proporção de
área desmatada atingir, de acordo com os cientistas, cerca de 30% da extensão
territorial originalmente coberta pelo bioma Amazônia.
A
partir desse ponto, a transformação da floresta em savana será inevitável. Ou
seja, a maior floresta tropical do mundo seria convertida num bioma similar à
savana, com perdas inestimáveis em biodiversidade e, o mais alarmante, em
produção de água.
Em
1995, foram destruídos 29.059 Km2 de florestas, a maior taxa de
desmatamento na Amazônia desde 1988, ano em que tiveram início as medições.
Um
novo recorde aconteceu em 2004, quando o desmatamento atingiu uma área total de
27.722 Km2.
Não
por acaso, os picos de desmatamento coincidem com os ciclos de aquecimento da
economia e elevação do PIB. Quem comparar gráficos espelhando as flutuações das
taxas de desmatamento e as variações do PIB, a partir da década de 1990, notará
com certa facilidade que em alguns momentos há estreita correlação.
No
atual cenário econômico, quando o país vem logrando superar, desde 2017, sua
pior recessão em 100 anos, sendo que os economistas dão por certo um
crescimento do PIB superior a 2% em 2020, a dinâmica do desmatamento é mais que
preocupante.
A
se confirmar a tendência de elevação da taxa para o período posterior a 2012,
uma vez que houve elevação em 2013, 2015, 2016, 2018, até o recorde atual de
2019, o caminho em direção à catástrofe representada pelo ponto de não retorno
estará trilhado – agravando-se o quadro já existente de alteração no regime de
chuvas e ocorrência de secas e alagações.
Medidas
de contenção devem ser adotadas pelo governo, imediatamente.
Afinal,
e ainda que poucos se deem conta, o desmatamento da Amazônia é a maior tragédia
ambiental do país.
* Professor da Universidade
Federal do Acre (Ufac), engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília
(UnB).
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