Com ou sem MP, ensino médio deve ser reformado
*Ecio Rodrigues
Todos
os indicadores internacionais de avaliação do ensino fundamental e médio,
incluindo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla
em inglês), apontam para uma fragilidade permanente e absurda do modelo de
ensino entregue pelas escolas aos estudantes brasileiros.
Desnecessário
reforçar que a posição obtida pelo Brasil em estatísticas internacionais de
ensino de matemática e línguas, somente para ficar nas disciplinas mais
importantes, é vergonhosa para um país que integra uma das dez maiores
economias do mundo.
Não
havendo dúvida entre os especialistas quanto à urgência em melhorar o ensino
médio, é difícil compreender a resistência enfrentada pelas propostas de
mudança. Foi assim na reforma em direção à escola de ciclo único em São Paulo,
e a história se repete agora na organização do ensino médio por área de conhecimento,
conforme alvitrado pelo Ministério da Educação, MEC.
Melhor
deixar de lado as críticas que claramente se vinculam a posturas de ordem sindical,
corporativa e político-partidárias, oriundas quase sempre dos que se posicionam
como “de esquerda” e que, considerando o atual governo como “ilegítimo”, se opõem
aferradamente a qualquer coisa que emane dele.
Sob
tal perspectiva, apegam-se a uma ladainha repetida em torno de qualquer assunto
– do petróleo à educação –, e que não leva a lugar nenhum.
A
reação que realmente importa tem outras procedências. E embora difíceis de
aferir, esses focos de resistência precisam ser identificados, mapeados e, o
mais importante, trazidos à discussão, em benefício do país.
Exemplos
não faltam do estrago que essa indefinível resistência pode causar. Por sinal, o
mais recente deles alude ao fracasso na implantação das escolas de ciclo único
em São Paulo.
Não
dá para supor que uma mãe cuja filha curse, p. ex,. o segundo ano, prefira vê-la
dividindo espaço com marmanjos do ensino médio do que estudando numa escola exclusiva
para crianças do primeiro ciclo do fundamental.
Não
dá para supor, igualmente, que uma escola de ciclos múltiplos, abrangendo do ensino
fundamental ao médio, possa ser mais eficiente do que uma instituição
especializada num único ciclo.
Todos
os especialistas consultados à época da proposta (segundo semestre de 2015) anuíram
quanto à supremacia do modelo de ciclo único. Sem dúvida, os pais preferem esse
modelo. O Ministério Público assente com o modelo.
Mesmo
quem não entende nada de pedagogia ou de modelos educacionais haverá de
concordar que as escolas de ciclo único estão mais propensas a fornecer um
serviço de melhor qualidade para o aluno.
Mas
a reforma não vingou.
Transformados
em heróis por uma parcela considerável e irresponsável da imprensa, os meninos que
ocuparam as escolas – ingênuos úteis, por suposto – ajudaram a derrubar um
Secretário de Educação. Como resultado para o ensino, nada; ou melhor, a
mesmice.
Melhorar
o ensino médio deve ser prioridade para a sociedade, e o MEC, finalmente, tomou
alguma iniciativa. É hora de enfrentar as resistências.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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