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Mostrando postagens de junho, 2021

Biodiversidade florestal e microcrédito na Amazônia

  * Ecio Rodrigues Desde que o economista bengali Muhammad Yunus e seu Banco Grameen receberam o Nobel da Paz em 2006 que programas de microcrédito se proliferam pelo planeta. Criador do conceito, Yunus logrou estruturar o maior programa de microcrédito do mundo, capaz de se retroalimentar com os juros pagos pelos tomadores do empréstimo. Por isso, a imprescindibilidade da cobrança de juros. Por trás de toda grande ideia sempre há um insight, um pulo do gato, e com o microcrédito não foi diferente. Hoje pode até parecer óbvio, mas até então ninguém se atentara para as necessidades dos pequenos tomadores de crédito – que embora não consigam apresentar as garantias exigidas pelo sistema bancário tradicional, são capazes de honrar seus compromissos de pagamento. Ainda há quem suponha que o segredo para o sucesso do microcrédito está na oferta de módicas quantias de dinheiro. Um equívoco. Ocorre que a maior barreira enfrentada pelo pequeno tomador de crédito é o acesso ao f...

Uso múltiplo da biodiversidade florestal é a chave para o sucesso da bioeconomia na Amazônia

  * Ecio Rodrigues Imagine um almoxarifado que dispõe de mais de 50 produtos (a maioria perecível) em estoques reduzidos que duram cerca de 3 meses, cada um atendendo a um determinado nicho de mercado e sendo comercializado sob valor atrativo. É mais ou menos assim que funciona a economia da biodiversidade florestal da Amazônia. Sem embargo, conquanto inúmeras pesquisas tenham comprovado o valor econômico estratégico desse almoxarifado, excetuando-se a indústria madeireira, a região ainda não conta com empreendimentos bem sucedidos e em funcionamento voltados para a exploração da biodiversidade florestal. Essa circunstância, pode-se dizer, perdura desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando o principal produto da biodiversidade florestal amazônica, a borracha, foi praticamente eliminado do mercado de pneus. Administrar esse complexo almoxarifado exige grande capacidade técnica. A boa notícia é que já foi desenvolvida tecnologia apropriada e há disponibilidade de engen...

Seca no rio Acre não será resolvida nem por Depasa nem por Saerb

  * Ecio Rodrigues Há algumas semanas a imprensa noticiou que o abastecimento d’água nas cidades que dependem da vazão no rio Acre estava em situação de risco de racionamento. Trata-se de um universo de consumidores que representa quase 70% da população do estado, concentrando-se nos oito municípios localizados ao longo da bacia hidrográfica. Embora as informações disponíveis não sejam de fácil interpretação, pode-se afirmar com boa dose de certeza que o cruzamento da rodovia BR 364 com o rio Acre define, no território estadual, a região onde a pressão pelo desmatamento acontece com mais intensidade há mais de 30 anos, em consequência da expansão da pecuária extensiva de gado. Enquanto isso, nesse longo interstício de três décadas, a administração dos serviços de captação, tratamento e distribuição de água em Rio Branco passou da empresa estadual Sanacre para a municipal Saerb, depois para a estadual Depasa e, agora, voltou para a Saerb. Essa alternância se deu por conta ...

Biodiversidade florestal da Amazônia, serviços ecossistêmicos e o preço

  *Ecio Rodrigues Ao vociferar que os países ricos devem pagar para não desmatarmos a Amazônia, o governo brasileiro, além de se rebaixar ao nível de um chantagista ordinário, erra na estratégia, desconsiderando o potencial econômico da biodiversidade florestal da região. Por óbvio, a chave da questão não reside no pagamento – já que essas nações há muito tempo se dispõem a nos financiar, a fim de que cumpramos nossa responsabilidade perante a humanidade –, mas sim no que os tributaristas chamam de “efeito gerador”. Nenhum país, por mais boa vontade que tenha, aceitará pagar quando o Brasil evidencia incapacidade para honrar os compromissos assumidos perante um pacto civilizatório destinado a evitar o aquecimento do planeta, como é o caso do Acordo de Paris, celebrado em 2015 por 195 países associados à ONU. Entretanto, certamente todos os países anuirão em remunerar os serviços prestados pela biodiversidade florestal da Amazônia na redução do estoque de carbono na atmosfer...